Título: PP, PTB e PL em busca da 3ª via
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 26/09/2005, O País, p. 3

Donos de 144 votos, partidos costuram acordo para sucessão de Severino na Câmara

Adois dias da eleição para a presidência da Câmara, PP, PTB e PL costuram um acordo que resulte num candidato único, formando uma terceira via na disputa. Juntos, esses partidos somam 144 votos. Os candidatos da oposição, José Thomaz Nonô (PFL-AL), e do governo, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), tentam quebrar essa unidade conversando com os líderes. Também fazem corpo-a-corpo, falando individualmente com cada um dos parlamentares.

Nessa disputa, o presidente do PMDB, o deputado Michel Temer (SP) tentou ontem garantir o apoio dos três partidos em torno de sua candidatura. Temer ¿ cujo apoio é desejado por Aldo e por Nonô ¿ chegou a anunciar que participaria das conversas sobre a terceira via. No entanto, no fim do dia, isso já era praticamente descartado.

¿ A possibilidade de apoiar Temer é quase impossível. Ele colocou as coisas de uma forma que nos deixou perplexos: ¿Vamos juntos, desde que seja eu¿ ¿ contou o candidato do PTB, Luiz Antônio Fleury Filho (SP).

O deputado Ciro Nogueira (PP-PI) confirmou as dificuldades para um entendimento com o PMDB. Segundo ele, o acordo está mesmo fechado entre PP, PL e PTB.

¿ Na terça-feira, vamos colocar as cartas na mesa e quem estiver melhor ganha o apoio dos outros dois ¿ disse Ciro.

Aldo fez campanha por telefone e se mostrava confiante em ir para o segundo turno.

¿ Respeitamos os concorrentes, mas confiamos na vitória ¿ disse Aldo.

¿ Em qualquer cálculo Aldo está no segundo ¿ disse o líder do PT, Henrique Fontana (RS).

O ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, negou qualquer possibilidade de o governo retirar o apoio a Aldo. Na noite de sábado, Aldo e Wagner conversaram longamente e ontem também se falaram. As conversas com os deputados da base, no entanto, podem não prosperar. O candidato do PL, deputado João Caldas (AL), disse que Aldo pediu a união dos candidatos do governo.

¿ O problema, e eu disse isso a Aldo, é como o governo faz as coisas. Procura a gente para comunicar o fato e não para pedir ajuda na formulação do conceito ¿ disse Caldas.

Entre alguns aliados do governo, a união de PP, PL e PTB em torno de um candidato único é considerada improvável. O líder do PP, José Janene (PR), por exemplo, descarta essa possibilidade. Ele afirmou que o PP busca uma candidatura de consenso que poderá ser a de Aldo ou qualquer outro governista, quem tiver mais chance.

¿ O caso de Roberto Jefferson foi um acontecimento, já passou. Na Câmara não jogamos com o passado; nos damos bem com PTB e com PL, somos partidos irmãos. Deveríamos afunilar, mas, se não for possível, isso acontecerá no segundo turno ¿ afirmou Janene.

Nonô pede apoio da esquerda e oferece cargo

Nonô, o candidato da oposição, também não largou o telefone. Para tentar garantir o apoio de partidos de esquerda como PV, PPS e PDT, avisou ontem que, caso vença, vai negociar a ocupação da primeira vice-presidência. Disse ter conversado com Temer e antecipou que poderão negociar um acordo no segundo turno.

¿ Os partidos políticos que me apoiarem em primeiro turno conduzirão as tratativas para a vacância da vice. Neste primeiro turno a negociação está descartada ¿ avisou.

A eleição pode ser marcada pela pulverização de candidaturas. Mesmo com o crescimento da candidatura Ciro Nogueira, o ex-ministro Francisco Dornelles (RJ), lançado como alternativa de consenso semana passada pelo PP, está disposto a levar até o fim sua campanha.

¿ Os companheiros do PP querem que eu leve minha candidatura até o final e vou fazer isso ¿ afirmou Dornelles.

Mesmo Fleury, que confirmou o acordo com o PP e o PL, avisou que a bancada do PTB quer a manutenção de sua candidatura. Na tarde de ontem, Temer contava com a possibilidade de apoio dos três partidos para se viabilizar como terceira via da Câmara e avisava que sua disposição era levar a campanha até o fim.

¿ Se for possível aglutinar, tudo bem. Numericamente são 230 votos. Mas senão, cada um vai por si. O PMDB chega na eleição com quase 92 deputados e terei entre 80 e 70 votos destes. Os últimos gestos (apoio de Renan Calheiros à candidatura Aldo Rebelo) criaram uma corrente de solidariedade, uma espécie de patriotismo interno, e a cota de traição foi reduzida ¿ disse Temer.

Irônico, Temer disse ontem que Renan não ligou para ele para conversarem, ¿porque deve estar muito atarefado com a campanha de Aldo¿. Os candidatos têm até as 18h de amanhã para registrar oficialmente as candidaturas.