Título: LULA E DIRCEU SE ENCONTRAM NA DESPEDIDA DE APOLONIO
Autor: Chico Otavio
Fonte: O Globo, 26/09/2005, O País, p. 3

Presidente e ex-ministro não falaram de crise, mas citaram importância de fundador do PT

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva despediu-se ontem de um símbolo da esquerda, o ativista político Apolonio de Carvalho, cujo corpo foi cremado, no fim da manhã, no Cemitério do Caju, no Rio. O velório foi também cenário de um encontro entre Lula e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, um dos pivôs da crise que envolve o governo. Ambos se cumprimentaram rapidamente, depois de Dirceu tomar a iniciativa de se aproximar do presidente e da primeira-dama, dona Marisa. Nem Lula nem Dirceu quiseram falar de política.

Cerca de 200 pessoas prestaram a última homenagem a Apolonio, fundador do PT. Ao lado da primeira-dama, Lula chegou às 10h27m à capela E do cemitério do Caju, onde o corpo estava sendo velado. O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, e o assessor especial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, acompanhavam Lula, que permaneceu dez minutos na capela e seguiu de carro com Renée de Carvalho, viúva de Apolônio, até o crematório.

Ao deixar o cemitério, o presidente disse que Apolonio foi para o PT e para o povo brasileiro o símbolo da coerência, do comportamento ético e da maturidade política. Disse que poucas vezes viu um político com o otimismo de Apolonio.

¿ Quando soube que estava doente, liguei na quarta-feira. A Renée disse que Apolonio não podia falar, mas passou o telefone para ele ouvir. A primeira coisa que fez foi dizer: ¿Lula, estou saindo do hospital¿. Mandei o ministro da Saúde (Saraiva Felipe) visitá-lo. Ele disse que estava bem. E morreu o Apolonio.

Lula disse que não havia crise ou situação difícil que vencesse a alegria e o otimismo de Apolonio.

¿ Quem conviveu nos últimos 30 anos com Apolonio sabe que não é só o Brasil que perde. O mundo perde um cidadão com todas as letras maiúsculas ¿ disse.

Nos últimos meses, Apolonio estava, segundo o relato de seu filho René de Carvalho, ¿chocado, mas ainda otimista¿, com a crise no PT.

O caixão foi coberto pelas bandeiras do Brasil, da França (país que condecorou Apolonio como herói da Resistência à ocupação nazista), da Espanha (em cuja Guerra Civil Apolonio lutou ao lado dos republicanos), do PT e do MST. Apolonio morreu na sexta-feira, aos 93 anos, de insuficiência respiratória em conseqüência de uma pneumonia. José Dirceu destacou, em Apolonio, a qualidade de uma pessoa simples e humilde.

¿ Apolonio nunca perdeu a simplicidade, a capacidade de aprender. Sempre viveu com muita paixão, acreditou na humanidade, na liberdade e na Justiça.