Título: Oposição sobe o tom no Senado
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 04/11/2004, O país, p. 3

Fortalecida nas urnas, a oposição voltou ao Senado falando grosso com o governo Lula. Senadores do PFL e do PSDB subiram à tribuna ontem para fazer críticas pesadas ao comportamento do governo e do PT nas eleições e cobrar mais ação do presidente. A derrota do senador César Borges (PFL-BA) na disputa pela prefeitura de Salvador também conseguiu o que parecia impossível antes das eleições: pacificar e unir o PFL na oposição ao governo Lula.

Da tribuna, César Borges e o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que pouco antes do primeiro turno lideraram um grupo de pefelistas num jantar com o presidente Lula, declararam ontem guerra ao Planalto. Sem que nenhum representante da base aliada respondesse aos ataques dos dois senadores, que acusaram Lula de ter permitido que a máquina federal fosse usada a favor dos candidatos do PT, o governo pôde ter idéia do que lhe reserva o cenário pós-eleitoral.

¿ Fomos vítimas de uma campanha sórdida e cínica do governo federal ¿ bradou Antonio Carlos da tribuna, ameaçando daqui para a frente fazer ¿oposição dura¿ ao governo Lula.

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, promete responder hoje aos ataques.

A mudança de discurso de Antonio Carlos deverá ser suficiente para barrar seu processo de expulsão do partido, que foi proposto no dia seguinte ao polêmico jantar promovido pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu, que reuniu em torno de Lula um grupo de senadores pefelistas então contrários à postura oposicionista do PFL. Com isso, o governo perderá votos estratégicos da oposição que por vezes lhe garantiam maioria no Senado. O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), endossou o ataque dos colegas baianos.

¿ O que ocorreu em Salvador se repetiu por todo o país ¿ ressaltou Bornhausen.

Para Borges, o governo federal não soube manter a isenção e utilizou-se da máquina pública para tentar influenciar o resultado das eleições, usando métodos ¿inescrupulosos e desprezíveis¿ que foram tão criticados quando o PT estava na oposição. Segundo ele, as prefeituras petistas receberam até quatro vezes mais recursos que os municípios baianos administrados por seus adversários, como Vitória da Conquista, que teria contado com mais recursos que Salvador.

¿ No meu estado, o jogo sujo foi ainda maior. A Petrobras, lá conhecida como PTBras, participou ativamente da campanha eleitoral petista ¿ disse Borges.

Antonio Carlos foi ainda mais duro ao criticar o comportamento do ministro da Saúde, Humberto Costa, que durante a campanha esteve em Salvador e teria declarado que a capital baiana, administrada atualmente pelo PFL, estaria perdendo R$ 250 milhões por não ter aderido ao programa de municipalização da saúde. Tratado pelo senador como vampiro, o ministro foi acusado de ter levado a seu estado uma equipe ¿para roubar melhor¿.

¿ Se o presidente continuar com ministros como este da Saúde, ele será culpado também por omissão ¿ disse Antonio Carlos.

O ministro divulgou nota respondendo ao senador. Costa disse que esteve na Bahia este ano para lançar programas federais ¿ o Farmácia Popular e o Samu/192 ¿ que beneficiaram a população baiana. A nota observa que, numa das solenidades, a de lançamento do Farmácia Popular, no mesmo palanque do ministro e do presidente Lula estavam aliados do senador, como o prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy, e o governador da Bahia, Paulo Souto.

O líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN), chegou a declarar que, depois do relato feito pelos colegas baianos, considerava viciado o processo eleitoral em Salvador. Já para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), chegou a hora de o governo dar um basta em tanta ¿lambança¿.

¿ O PT deveria pensar menos na reeleição de Lula e governar mais ¿ disse Virgílio.

O líder tucano garantiu que as vitórias obtidas pelo PSDB nas eleições municipais não levarão seu partido a jogar contra o país para ser beneficiado em 2006. Pelo contrário, ele disse que os tucanos estão dispostos a aprovar os projetos de interesse do país, como as Parcerias Público-Privadas (PPP), desde que sejam feitas correções.

¿ Queremos votar a PPP, desde que se fechem os espaços para as negociatas, que se respeite a Lei de Licitações e a Lei de Responsabilidade Fiscal ¿ afirmou.

Só no fim do dia, quando o plenário já estava praticamente vazio, a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), tentou revidar aos ataques feitos durante toda a tarde contra o governo.