Título: Ala governista do PMDB trabalha contra a candidatura de Temer
Autor: Lydia Medeiros/Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 23/09/2005, O País, p. 4

Aldo é aposta do grupo comandado por Renan e Sarney contra peemedebista

BRASÍLIA e FORTALEZA. A candidatura de Aldo Rebelo foi articulada pela ala governista do PMDB no mesmo dia em que o deputado Michel Temer (PMDB-SP) entrou na disputa pela presidência da Câmara com um manifesto assinado pela bancada de 86 deputados peemedebistas. A articulação partiu do Senado. A ascensão de Temer preocupa o grupo comandado pelos senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP).

Em Fortaleza, antes mesmo do anúncio do nome de Aldo como candidato da base, Renan disse que era muito difícil viabilizar uma candidatura do PT para a presidência da Câmara e que o partido deveria agir rapidamente para encontrar uma alternativa ao nome de Arlindo Chinaglia (PT-SP). Ele contestou a prerrogativa alegada pelo PT para lançar candidato próprio, de que tem maioria na Câmara.

- Essa eleição é atípica, não há direito adquirido, candidato natural. O que os partidos vão fazer é uma aliança que possa aglutinar ao máximo - disse Renan, que participou em Fortaleza do III Encontro de Delegados da Polícia Federal.

A ala governista do PMDB usa junto ao Planalto o argumento de que Temer não agregou o PSDB e o PFL, que haviam acenado com um possível apoio. Por isso, nos bastidores, os peemedebistas se uniram a um grupo de petistas para negociar a renúncia do líder Arlindo Chinaglia (PT-SP) e costurar o nome de Aldo como candidato de consenso da base.

Em contrapartida, a outra banda do PMDB se movimenta para fortalecer Temer. O candidato recebeu Chinaglia em casa. Tentou mostrar que seu nome é mais viável que o do ex-ministro Aldo, porque pode provocar traições em vários partidos, especialmente no PSDB. Os tucanos têm especial interesse em ter o PMDB como parceiro em 2006 em muitos estados, como Minas Gerais. Temer permanecerá como candidato, na confiança de que, à última hora, se os candidatos do PFL ou do governo não crescerem, ele poderá ser a opção dos dois grupos.

Para sensibilizar os partidos, Temer incluiu em sua plataforma o compromisso de pôr em votação imediatamente a emenda constitucional que acaba com a verticalização, regra pela qual as coligações regionais devem seguir a aliança nacional.

- O jogo agora não é o da maioria parlamentar. O jogo é eleitoral, é o do partido - observa o deputado Geddel Vieira Lima (BA), sustentando que o PMDB ficará unido em torno de seu candidato.

Essa, para o grupo de Temer, seria a lógica que levaria Renan a apoiar Temer. Para o senador alagoano, o pior dos mundos seria ter o candidato do PFL, José Thomaz Nonô (AL), em posto de destaque. Ambos são rivais em Alagoas e hoje Renan é o principal político do estado.

Para resolver o problema da maioria parlamentar, vital para o governo, o PMDB de Temer acena com a formação de um bloco com o PT. Com Temer eleito, argumentam seus defensores, Lula poderia contar com o PMDB unido. Pelo menos até o início da campanha eleitoral. Mas no Planalto e no PT é grande a desconfiança com o grupo de Temer e de Geddel, que sempre fizeram oposição ao governo Lula e são ligados aos tucanos.

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Legenda da foto: RENAN CALHEIROS: preocupação com a ascensão de Temer no PMDB