Título: TERMÔMETRO
Autor:
Fonte: O Globo, 23/09/2005, Opinião, p. 6

Em uma operação financeira, o Tesouro Nacional lançou no mercado financeiro internacional US$1,5 bilhão em títulos cotados em reais. E a procura pelos papéis chegou a superar em mais de dez vezes a oferta original do equivalente a US$500 milhões. Nesse tipo de captação, o Tesouro recebe o valor da venda em moeda estrangeira, e paga os juros e amortiza o capital principal na moeda brasileira. O risco da variação do câmbio fica por conta do investidor.

Obviamente que o maior atrativo para essa emissão foi uma taxa de juros bem acima da que tem sido oferecida por países ricos e mesmo por algumas economias emergentes. De qualquer forma, há algum tempo uma emissão como essa seria totalmente rejeitada pelo mercado.

O que mudou? Basicamente a capacidade da economia brasileira em se autofinanciar. A dívida externa vem sendo reduzida graças a um expressivo superávit na balança comercial do país, que aumentou significativamente a oferta de dólares e outras moedas conversíveis no mercado interno.

Nesse ambiente favorável, o Tesouro e o Banco Central têm posto em prática uma estratégia correta de diminuir gradativamente seus compromissos financeiros em outra moeda que não o real. Como o setor público tem poucas receitas em moeda estrangeira - diferentemente das empresas, que podem gerar esse tipo de ingresso pela venda de bens e serviços ou pelo recebimento de aplicações financeiras do exterior - o recomendável é que a dívida externa vá sendo reduzida pouco a pouco. O Tesouro já anunciou que em 2006 amortizará 20% das dívidas que vencerão ao longo do ano.

A capacidade de pagamento dos compromissos em moeda estrangeira ficou comprovada pelo desempenho do comércio exterior brasileiro. Os investidores agora acreditam também na capacidade de pagamento em moeda nacional. Tal qual o país conseguiu reduzir a sua dívida externa, é hora de se ter uma estratégia efetiva para diminuir os encargos sobre o endividamento interno, que hoje se constituem na maior fonte de realimentação desse passivo. E o crescimento sustentável da economia brasileira depende muito disso.

Títulos cotados em reais mostram confiança do investidor