Título: Empresa rastreará contas em paraísos fiscais
Autor: Jaílton de Carvalho/Alan Gripp
Fonte: O Globo, 23/09/2005, O País, p. 8

Primeira encomenda visa a levantar depósitos que seriam provenientes de propinas na prefeitura de Santo André

BRASÍLIA. Uma empresa internacional especializada em rastrear contas bancárias em paraísos fiscais vai auxiliar as investigações das três CPIs em andamento no Congresso: a dos Correios, do Mensalão e dos Bingos. A contratação foi autorizada ontem pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, atendendo a pedido do líder do PFL, senador José Agripino Maia (RN). A empresa, cujo nome não foi divulgado, vai concentrar os trabalhos nas contas suspeitas de terem movimentado dinheiro ilegal do PT no exterior.

A primeira encomenda à empresa já está decidida: a conta identificada como Barret, no Merchant Bank, de Nova York. Por ela, teria passado o dinheiro de propina paga por empresas de ônibus de Santo André. A informação foi dada anteontem à CPI dos Bingos pelo doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, que admitiu ter recebido dinheiro em notas de pequeno valor - um indício de que seria proveniente das empresas de ônibus - e enviado para a conta.

- A identificação dessa conta é um tiro certeiro, na mosca, que mostraria as origens da corrupção que culminou com o mensalão - aposta Agripino Maia.

Força-tarefa vai dia 3 aos EUA

A CPI do Mensalão também quer identificar as contas usadas pelo publicitário Duda Mendonça para receber, segundo ele próprio admitiu, o pagamento pelas campanhas do PT, incluindo a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições de 2002. Em depoimento à CPI, o publicitário confessou ter recebido R$10,5 milhões do publicitário Marcos Valério numa conta nas Bahamas. A comissão, no entanto, suspeita que Duda tenha outras contas no exterior.

Em outra frente de investigação, uma força-tarefa de policiais federais e procuradores da República viaja no próximo dia 3 para os Estados Unidos para buscar informações sobre contas bancárias de Duda, da sócia dele, Zilmar Fernandes, e de Marcos Valério. Os nomes dos três, investigados no inquérito do mensalão, aparecem em farta documentação apreendida pela Promotoria Pública de Nova York durante as investigações sobre um esquema internacional de lavagem de dinheiro.

O Departamento de Recuperação de Ativos Financeiros, do Ministério da Justiça, já pediu essas informações às autoridades americanas. Mas policiais e procuradores querem ir aos Estados Unidos para explicar o caso do mensalão e, com isso, apressar a liberação dos dados bancários considerados essenciais às investigações.

A partir daí, a PF espera avançar sobre as supostas movimentações financeiras no exterior de beneficiários dos repasses de Valério, apontado como um dos operadores do caixa 2 da antiga cúpula do PT.

O inquérito do mensalão está numa fase intermediária. Na próxima semana, o delegado Luís Flávio Zampronha remeterá novamente os autos do inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF). O delegado deverá sugerir novas quebras de sigilo bancário e fiscal. Até agora, no entanto, a polícia não recebeu os dados bancários e telefônicos nem mesmo de Marcos Valério. A quebra do sigilo do empresário e de outros acusados foi aprovada há quase um mês pelo STF.

Legenda da foto: TONINHO DA BARCELONA depõe na em sessão conjunta das CPIs: pagamento em notas de pequeno valor