Título: DOLEIRO DEPÕE E AGRAVA A SITUAÇÃO DOS MALUF
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 23/09/2005, O País, p. 13

Birigüi confirma esquema ilegal na operação de depósito dos US$161 milhões em NY

SÃO PAULO. A situação do ex-prefeito Paulo Maluf (PP) e seu filho Flávio, presos desde o dia 10, foi agravada ontem. O doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, que além de réu é considerado a principal testemunha do Ministério Público Federal contra os Maluf, confirmou todo o esquema ilegal na operação de depósito dos US$161 milhões no Safra National Bank de Nova York. Alves assumiu que era o administrador dos recursos, cuja fonte seriam propinas recebidas por Maluf da empreiteira Mendes Júnior, quando ele era prefeito de São Paulo, entre 1993 e 1996.

- Eu administrei os US$161 milhões da família Maluf. Essa é a verdade - disse o doleiro, logo depois de prestar depoimento por cerca de quatro horas ao juiz federal Paulo Alberto Sarno, na 2ª Vara Criminal Federal. - A conta está em meu nome, só que o dinheiro era dele (Maluf).

De acordo com os advogados do doleiro, ele confirmou todas as informações que já tinha dado ao Ministério Público Federal contra os Maluf, inclusive sobre as subcontas da Chanani, a conta principal operada por ele no Safra National Bank.

O doleiro só teria se recusado a responder às perguntas feitas pelos advogados de defesa de Maluf, que teriam tentado desqualificar seu depoimento. A defesa de Maluf tem alegado que o doleiro tentou chantagear os Maluf e depois foi "presenteado" pelo delegado federal Protógenes Queiroz para delatar os Maluf.

Doleiro garantiu que não sofre ameaças

O doleiro disse que está tranqüilo e aliviado por ter prestado o depoimento. Ele afirmou ainda que não sofre nenhuma ameaça e manterá todas as suas declarações. Alves poderá ser beneficiado pelo critério de delação premiada, já pedida pelo MPF e que será analisado ao final do processo pelo juiz.

Um dos advogados do doleiro, Gontran Guanaes Simões, esclareceu o que Alves quis dizer numa fita gravada em que ele conversa com outro doleiro. A defesa alega que o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, iria lhe dar um presente ao final do inquérito. Segundo o advogado, o presente seria a delação premiada, com redução de pena ao doleiro em troca das informações.

O advogado desmentiu que o delegado da PF tivesse lhe prometido impunidade no mercado de câmbio negro em São Paulo em troca de descrever o que sabia sobre as movimentações financeiras de Maluf no exterior.

-Meu cliente tem cadastro no Banco Central . Ele tem participação em uma corretora de títulos autorizada pelo BC. Ele trabalha legalmente no mercado. O presente a que meu cliente se refere no grampo gravado pela PF é a delação premiada- disse.

Procurador: depoimento dos Maluf não mudou situação

Ontem à noite a Justiça Federal também ouviu o depoimento de Simeão Damasceno de Oliveira, da empreiteira Mendes Junior. Ele havia falado à polícia que o dinheiro que Maluf tem no exterior foi oriundo do superfaturamento de obras importantes de São Paulo feitas pela Mendes Junior, como o Túnel Ayrton Senna e a avenida Água Espraiada. Mas houve momentos em que Simeão recuou e negou as acusações. Embora o Ministério Público tenha oferecido a Simeão também os benefícios da delação premiada, seu advogado Francisco Lobo da Costa Ruiz reagiu indignado.

- Propuseram para ele (ser) um cagüetão, mas isso não é jurídico e não vamos aceitar -disse Lobo.

O procurador do Ministério Público Federal (MPF) Rodrigo De Grandis, um dos responsáveis pelo processo contra os Maluf, afirmou que os depoimentos de Paulo e Flávio Maluf, que demoraram sete horas e meia na 2ª Vara Federal Criminal, anteontem, não mudaram o processo contra eles.

- O que eles disseram e o que foi apresentado por seus advogados não modifica em nada o processo contra os dois. Não houve a apresentação de nenhum fato que melhore a situação dos dois.