Título: PF ADMITE NÃO TER CÓPIA DO DINHEIRO ROUBADO
Autor: Célia C, Carla R, Dimmi Amora e Ana Cláudia Costa
Fonte: O Globo, 23/09/2005, Rio, p. 16

Ao contrário do que determina a norma e tinha sido anunciado pela Polícia Federal, não foram feitas as fotocópias das notas dos cerca de R$2 milhões roubados da sede da corporação no Rio. O superintendente em exercício da PF do Rio, delegado Roberto Prel, disse ontem que a falsa informação foi dada por ele como estratégia de investigação. Sete suspeitos do roubo já teriam sido identificados, segundo o "Jornal Nacional". O corregedor da PF, Victor Poubel, admitiu ter "alguns suspeitos" e que foram feitas acareações. Ele afirmou que vai analisar o fato de as fotocópias não terem sido feitas:

- E se o fato de divulgar que elas existiam teve alguma implicação no inquérito - afirmou.

O procurador da República Gino Liccione recebeu ontem de Poubel uma cópia da sindicância interna da PF. Ele disse que poderá processar por improbidade administrativa o superintendente em exercício da PF, caso seja comprovado o depoimento do escrivão Fábio Marôt Kair. Ele era responsável pela guarda do dinheiro apreendido durante a Operação Caravelas, que desbaratou uma quadrilha que pretendia enviar cocaína para o exterior dentro de bucho bovino.

Kair afirmou que, por volta de 11h30m de sexta-feira passada - a apreensão foi feita na madrugada de quinta - Prel pediu que o dinheiro fosse levado para a apresentação à imprensa, o que só terminou às 17h. O entendimento do procurador é de que o dinheiro deveria ter sido depositado em um banco.

- Se foi assim, fica claro que teria dado tempo de fazer o depósito do dinheiro - disse Liccione. - Existe na PF do Rio uma situação que não se justifica. Todas as operações de relevância são conduzidas por pessoas de fora do estado. Se a direção geral não confia na superintendência, deveria mudá-la. Nos últimos seis meses, recebi uma série de reclamações de delegados sobre a falta de condições mínimas de trabalho.

O processo de improbidade administrativa deverá também ter como objeto as denúncias feitas sobre falta de condições de trabalho na PF do Rio. Segundo Liccione, inquéritos pedidos pelo Ministério Público federal levam até um ano para ser abertos. Com base no inquérito criminal, Prel poderá ser denunciado por peculato culposo e prevaricação.

O superintendente em exercício afirmou que em nenhum momento disse a Kair para atrasar o depósito do dinheiro:

- A única solicitação feita foi à assessoria de comunicação social para que convocasse a imprensa para a apresentação do dinheiro. É comum.

O delegado também disse que sua intenção ao mentir sobre a existência das fotocópias das notas era que os investigadores ganhassem tempo, ao fazer com que os receptadores acreditassem na história.

- Quem roubou sabia que as fotocópias não tinham sido feitas. Existem indícios da participação de policiais. Foi por esse motivo que dissemos que as fotocópias existiam - disse Prel.

Notas apreendidas em Porsche foram copiadas

As notas dos US$495 mil apreendidas no Porsche de José Palinhos, acusado de ser um dos chefes da quadrilha, foram fotocopiadas. O dinheiro, apreendido no sábado, foi enviado no mesmo dia para Goiânia, onde tramita o processo.

Ontem, o filho de José de Palinhos, Rodrigo, apresentou-se à Justiça de Goiás. Ele ficará preso na sede da Superintendência da PF de Goiás, numa cela ao lado da do pai. Rodrigo é acusado de fazer parte da quadrilha e de ter vários CPFs para a abertura de empresas fictícias. O advogado dele, Nélio Andrade, já pediu cópias de todos os trechos do grampo em que há conversas de Rodrigo gravadas.