Título: INFLAÇÃO BAIXA, RENDA EM ALTA
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 23/09/2005, Economia, p. 23

O mercado de trabalho ficou melhor em agosto. A Pesquisa Mensal de Emprego, divulgada ontem pelo IBGE, constatou alta recorde no rendimento médio real (descontada a inflação) do trabalhador brasileiro. O crescimento de 3,7% no salário em agosto na comparação com o mesmo mês do ano passado é o maior desde que esse indicador começou a ser captado pelo IBGE, em março de 2003. A inflação em queda e o reajuste de 15,3% no salário-mínimo foram as explicações do gerente da pesquisa, Cimar Azeredo, para a reação no rendimento, que foi em média de R$973,20. Porém, a taxa de desemprego não caiu conforme as expectativas. Estacionou em 9,4% pelo terceiro mês seguido, num período em que o mercado de trabalho começa a ficar aquecido pelas contratações para dar conta da produção e das vendas de fim de ano.

A diferença no mês passado veio pela criação de vagas. Diferentemente de junho e julho, quando não houve abertura de postos, as empresas contrataram mais 81 mil (0,4%) pessoas de julho para agosto. Pouco para os 19,8 milhões de ocupados nas seis regiões metropolitanas acompanhadas pela pesquisa (Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo, Rio e Porto Alegre), mas um resultado melhor que em julho, quando houve corte de 18 mil postos:

- Não houve retrocesso. O emprego formal cresceu 6,2% na comparação com o ano passado, mostrando melhoria na qualidade do emprego - disse Azeredo.

Massa salarial cresceu mais

Para o diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia, os números refletiram uma situação melhor do mercado de trabalho. Ele lembra que a alta no rendimento coincide com a expansão da economia (3,4% no primeiro semestre):

- Ao contrário do ano passado, estamos vendo a riqueza chegar aos trabalhadores também. O salário deve apresentar crescimento este ano, sem dúvida.

Se forem confirmadas as expectativas do analista de mercado de trabalho, será a primeira vez em oito anos que o salário do trabalhador vai subir. Em 2004, caiu 0,8% em média no ano. Otimista, Saboia acredita também que a taxa de desemprego deve cair nos próximos meses e ficar abaixo de 9% em dezembro:

- É impressionante a capacidade de crescimento da economia brasileira. Mesmo com a taxa básica de juros absurdamente alta, em torno de 14% reais ao ano, o país consegue crescer.

Com o rendimento em alta e ligeiro acréscimo na ocupação, a massa salarial (soma de todos os rendimentos) voltou a crescer mais. Desde dezembro, a variação, mesmo positiva, vinha sendo menor até alcançar 2,7% em maio. Em junho, subiu 4,3% e em julho (último dado disponível para esse indicador) subiu 5,6%. Marcelo de Ávila, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), lembrou que o salário do trabalhador cresceu também contra julho. É o terceiro mês seguido de alta nessa comparação. Mesmo assim, não conseguiu ainda alcançar os patamares de julho de 2002, quando o salário médio estava em R$1.115,90, o ponto mais alto da série do IBGE. Em agosto, os recebimentos ficaram em R$973,20, valor 12,8% menor.

- Mas o pior já passou. A tendência agora é de recuperação.

A recuperação da renda chegou aos empregados com carteira assinada. Foi a primeira vez este ano que os empregados formais (que representam 40% da mão-de-obra ocupada) viram o salário real (descontando a inflação) subir, ficando em R$990,50 - afirmou Ávila.

Em SP, desocupação é a menor desde 2002

O desempenho da indústria explica um pouco as melhorias no mercado de trabalho, de acordo com Azeredo, do IBGE. O aumento de 44 mil vagas na indústria indica que a economia reagiu.

- O mercado está em compasso de espera, mas os números da indústria mostram que a economia dá os primeiros passos para o crescimento da produção - disse Azeredo.

E esse aumento na indústria foi puxado por São Paulo (mais 48 mil ocupados) e pelo Rio de Janeiro (mais 19 mil). Com isso, a região metropolitana paulista registrou a mais baixa taxa de desemprego desde março de 2002: 9,4%. No Rio, a a desocupação atingiu 7,4%.