Título: BC JÁ PREVÊ QUE INFLAÇÃO FICARÁ ABAIXO DA META
Autor: Ênio Vieira
Fonte: O Globo, 23/09/2005, Economia, p. 25

BRASÍLIA. O Banco Central (BC) prevê que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará abaixo da meta de inflação perseguida pela instituição, de 5,1% este ano e de 4,5% em 2006. Foi este cenário que possibilitou na semana passada a redução dos juros, após um ano de aperto monetário. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, indica que, se confirmado o cenário mais favorável da inflação, os diretores do BC continuarão a reduzir os juros.

A taxa básica (Selic) passou este mês de 19,75% para 19,5% ao ano. As apostas do mercado são de cortes de 0,5 ponto percentual em outubro, novembro e dezembro, encerrando o ano em 18% anuais. A projeção do BC para a inflação considerou o dólar a R$2,35, acima do nível atual. Quanto mais baixo o dólar, maior a tendência de queda da inflação.

"É preciso que os indicadores prospectivos de inflação sigam apresentando elementos compatíveis com o cenário benigno que tem se configurado. Dessa forma, a flexibilização da política monetária não comprometerá as importantes conquistas dos últimos meses no combate à inflação e na preservação do crescimento econômico com geração de empregos", diz o documento.

O economista-chefe da Corretora Concórdia, Elson Teles, avaliou que o BC demonstrou cautela na ata e optou por uma queda modesta de 0,25 ponto percentual no primeiro corte dos juros. Segundo ele, o Copom ainda observa a persistência da redução nos preços de alimentos nos últimos quatro meses e o ritmo de expansão econômica. Teles lembrou que alguns setores concederam reajustes salariais acima da inflação, o que representa pressão de demanda. Outro fator é o aumento do gasto público no segundo semestre do ano.

- O Copom não deu uma dica certeira da próxima decisão e não está completamente seguro. Quando estiver certo do cenário de inflação, pode acelerar com uma queda de 0,5 ponto percentual - observou.

BC estima que não haverá outro aumento da gasolina

A ata do Copom avaliou que o aumento da gasolina não afetou a tendência da inflação. O efeito do reajuste nos combustíveis, diz o BC, foi compensado pela menor elevação nos preços de energia elétrica. Os diretores estimam que este ano não haverá outra alta do combustível, que deve ficar 7,5% mais caro ao longo de 2005. O cálculo anterior era de estabilidade. O preço do gás de botijão deve cair 1,7%. A projeção para reajustes de energia residencial baixou de 8,2% para 7,6%. E a de telefonia fixa passa a 6,7%, contra 6,1% estimados em agosto.

"O aumento recente nos preços dos combustíveis proporcionou maior segurança sobre os desdobramentos internos futuros da dinâmica recente dos preços internacionais do petróleo. Em particular, no cenário de referência com que trabalha o Copom, não se considera outro aumento nos preços domésticos da gasolina em 2005", diz a ata.

Para mostrar a melhora de cenário, a ata enfatizou que a média mensal do IPCA diminuiu de 0,66%, entre março e maio de 2005, para 0,13% de junho a agosto. A valorização do câmbio foi um dos principais motivos do recuo, sobretudo nos produtos comercializáveis.