Título: PF PRENDE DOIS SECRETÁRIOS E IRMÃO DE PREFEITO TUCANO POR CORRUPÇÃO
Autor: Flavio Freire
Fonte: O Globo, 29/09/2005, O País, p. 13

Joaquim Pedroso, de Cotia, não foi preso mas está sendo investigado

SÃO PAULO. Depois de oito meses de investigação, a Polícia Federal prendeu ontem dois secretários municipais e o irmão do prefeito tucano de Cotia, na Grande São Paulo, envolvidos no desvio de R$30 milhões de verbas públicas federais destinadas a programas nas áreas de saúde e educação. O prefeito da cidade, Joaquim Pedroso, o Quinzinho, suspeito de envolvimento no esquema, também está sendo investigado, mas não teve a prisão requerida.

Foram presos os secretários Edson Gomes de Assis (Finanças) e Eric Pedroso (Governo), primo do prefeito, que teriam participado do esquema de desvio de verbas públicas entre 2002 e 2004. Na ação da PF, denominada Operação Raposa, os agentes federais cumpriram 11 mandados de busca, apreensão e prisão durante todo o dia de ontem.

Na casa de Álvaro Pedroso, irmão do prefeito, a PF apreendeu R$25 mil. Segundo a PF, Álvaro, que foi preso, teria participação direta no esquema que envolve a empresa ProCotia, criada na cidade na atual gestão. A empresa, de economia mista, recebia o repasse de verbas do governo federal por intermédio da prefeitura.

O dinheiro, no entanto, serviria para pagar a funcionários terceirizados, muitos deles fantasmas. Embora na folha de pagamento os funcionários da autarquia recebessem salários de R$300 a R$400, os fraudadores criaram uma folha paralela, com salários entre R$3 mil e R$22 mil. Esse dinheiro acabava sendo desviado para contas dos secretários ligados ao prefeito tucano. Depois, o grupo desviava os recursos para o exterior com a ajuda de doleiros, testas-de-ferro, parentes e amigos do prefeito.

Empresa estava fechada por causa de dívida com INSS

A PF apreendeu ontem na casa de Edson Gomes US$117 mil e R$50 mil. Na casa de Eric Pedroso foram apreendidos US$17 mil. Eric, Edson e Álvaro vão responder a processo pelos crimes de peculato (desvio ou apropriação indébita por parte de funcionário público), inserção de dados falsos, malversação de verbas públicas, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha. Em abril deste ano, a ProCotia foi fechada por causa de uma dívida de R$9 milhões com o INSS.

Segundo o delegado de Combate a Crimes Financeiros da Polícia Federal, Carlos Pelegrini, a quadrilha foi descoberta após uma série de denúncias feitas ao Ministério Publico estadual. O vereador de Cotia Toninho Kalunga (PT) entregou ontem um dossiê na PF com informações sobre o superfaturamento da compra de cestas básicas, além de contracheques com salários superiores aos que eram pagos de fato.

¿ O grupo ligado ao prefeito criou uma lista de funcionários fantasmas que recebiam o dinheiro que deveria estar indo para a saúde e a educação. Os que não eram fantasmas recebiam salários incompatíveis com os cargos. O chefe de gabinete da ProCotia, que não tinha cursado nem a oitava série, recebia R$6 mil por mês ¿ disse o delegado Carlos Pelegrini.

Além de desviar o dinheiro federal, os secretários da prefeitura ainda pediam mais verbas complementares ao governo de São Paulo, administrado pelo PSDB.

Em nota oficial, o prefeito de Cotia negou estar envolvido nas irregularidades. ¿Estou convicto de que o caso, no âmbito do Judiciário, será amplamente esclarecido, afastando especulações de adversidades políticas que buscam dar ao caso¿, disse o prefeito tucano.