Título: LULA ELOGIA RAINHA, QUE ACABOU DE DEIXAR CADEIA
Autor: Heliana Frazao
Fonte: O Globo, 29/09/2005, O País, p. 13

Em referência superficial à crise, presidente disse que economia deve ser blindada em relação à `pequenez política'

PORTO SEGURO, Bahia. Preocupado em voltar a Brasília para acompanhar a eleição do novo presidente da Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dividiu o palanque ontem em Eunápolis, no extremo-sul da Bahia, com o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) José Rainha Júnior, e apontou-o como um de seus verdadeiros companheiros. O presidente participou da inauguração da fábrica da Veracel Celulose e do assentamento Luiz Inácio Lula da Silva, o Lulão. Enquanto elogiava Rainha, fez críticas ao MST: na segunda-feira, quase desistiu da viagem, irritado com as invasões das sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em todo o país.

¿ Eu não vinha mais. Mas, depois, fui para casa e pensei que seria uma insensatez fazer com que o povo a quem eu tinha prometido que viria pagasse por uma divergência que possa existir entre o presidente da República e lideranças do MST ¿ disse Lula.

Rainha foi libertado há pouco mais de 15 dias, depois de nove dias de prisão no Centro de Ressocialização de Presidente Prudente (SP), no Pontal do Paranapanema, acusado de crimes de formação de quadrilha, furto e danos durante a invasão da Fazenda Santa Cruz, em Mirante do Paranapanema, em junho.

¿ Eu já vi gente com medo de ficar perto do Zé Rainha porque ele é perseguido, de vez em quando vai preso. Mas eu, como presidente da República, digo que você não é um companheiro de primeira hora, é um companheiro que conheço há muitos anos, e sei que quando eu deixar de ser presidente, muitos que hoje são meus companheiros não serão mais, mas você certamente vai continuar sendo meu companheiro ¿ afirmou o presidente.

Mais uma vez, Lula evitou falar claramente sobre a crise política, referindo-se apenas superficialmente a ela no discurso aos empresários na Veracel. O presidente defendeu que a política econômica seja ¿blindada com relação à pequenez política que, de vez em quando, acontece no país¿:

¿ Que a política econômica seja elaborada pensando na nova geração e não pensando na próxima eleição.

Lula atribuiu o atual ciclo de crescimento econômico a uma nova forma de fazer política:

¿ Estamos deixando de fazer, no Brasil, a política de curto prazo. Nós estamos pensando num país para os nossos netos, para os nossos filhos, para os nossos bisnetos.