Título: OPOSIÇÃO ATACA `MONSTRUOSO ESQUEMA DE CORRUPÇÃO¿
Autor: Evandro Éboli e Maria Lima
Fonte: O Globo, 29/09/2005, O País, p. 8

`Se Valdemar está presente, é evidente que tem barganha¿

BRASÍLIA. A ação ostensiva do Palácio do Planalto, prometendo milhões em emendas de parlamentares para ajudar Aldo Rebelo (PCdoB-SP), deixou revoltados os líderes da oposição. Enquanto no Salão Verde deputados da oposição acusavam o governo de comprar votos, o candidato José Thomaz Nonô (PFL-AL) teve de correr e gastar muita saliva, de gabinete em gabinete, para cabalar votos para o segundo turno. Tinha a oferecer a eventuais novos aliados a primeira vice-presidência, cargo que conquistou em fevereiro.

O líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), acusava o governo de ter montado um ¿monstruoso esquema de corrupção¿ e tripudiava sobre o fato de os governistas terem buscado o apoio do ex-deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP), que renunciou para evitar o processo de cassação por quebra de decoro parlamentar.

¿ Não bastasse essa vergonhosa liberação extemporânea de recursos, o governo teve que apelar, quem diria, a Valdemar Costa Neto. Se o Valdemar está presente, é evidente que tem barganha ¿ acusou Aleluia.

¿Nunca vi nada desse tamanho¿, diz tucano

O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), disse que nunca viu um rolo compressor como o utilizado pelo governo. Goldman classificou como um vexame a liberação de emendas de parlamentares ao Orçamento:

¿ Nunca vi nada desse tamanho na Câmara. O governo apelou aos mais espúrios métodos para eleger seu candidato.

O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), também condenou o governo. Para ele, o Planalto, com essa atitude, não pode acusar a oposição de querer antecipar as eleições de 2006.

¿ Independentemente do resultado, a imagem desse governo já está maculada e o prejuízo político já está feito.

Outros oposicionistas também engrossaram o coro:

¿ Depois do mensalinho e do mensalão, agora o governo trabalha com o supermensalão. O Planalto abriu o balcão de negócios sujos para ganhar a eleição na Câmara ¿ reagiu a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL).

¿ Nunca se viu tamanha operação fisiológica e de forma tão descarada como o PT montou agora ¿ disparou o deputado Pauderney Avelino (PFL-AM).

Amparado pelo discurso dos aliados, Thomaz Nonô nem esperou o resultado do primeiro turno e iniciou a peregrinação, começando pelo gabinete do corregedor Ciro Nogueira (PP-PI), em busca de seus 76 votos.

¿Tirem essa doida daqui!¿

A partir dali, trombando pelos corredores com a trupe encabeçada pelo adversário Aldo Rebelo, passou pelas lideranças do PTB, PDT, PP, acabando numa reunião com a bancada evangélica. Ali foi onde caprichou mais no discurso. Disse que prezava a família, era bem casado (pela segunda vez), cristão convicto e que comungava os mesmos valores que os pastores ali presentes. Estava animado com o empate, que para ele, tinha sabor de vitória.

No PTB, a disputa foi acirrada. Logo depois que ele saiu, entraram o líder do governo, Arlindo Chinaglia, e o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. Amiga do ex-deputado Roberto Jefferson, a deputada Laura Carneiro (PFL-RJ) tentou furar o cerco governista para ajudar Nonô, mas levou com a porta na cara e armou o maior barraco na liderança do partido. Quando tentou entrar na reunião do PTB, foi barrada pelo deputado Íris Simões (PR), chorou e quase se atracou com o petebista.

¿ Você é muito escandalosa e não é bem-vinda aqui. Tirem essa doida daqui! ¿ disse Íris, batendo a porta na sua cara.

Aos prantos, ela não se conformou e tentou entrar à força:

¿ Quando o Roberto Jeferson estava sozinho e abandonado, eu era bem-vinda. Agora bate a porta na minha cara? Não admito isso.Vou entrar! ¿ bradava Laura, aos prantos.

Não adiantou nada. Minutos depois Aldo Rebelo chegou para receber o anúncio formal do apoio do PTB.