Título: DÓLAR VOLTA A CAIR E BATE NOVO RECORDE: R$2,235
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 29/09/2005, Economia, p. 23

Para analistas, moeda pode chegar a R$2 devido às exportações. Bovespa também atinge marca histórica

O dólar atingiu ontem a menor cotação desde 7 de maio de 2001. A moeda americana encerrou os negócios cotada a R$2,235, em queda de 1,06%. No mês, a queda acumulada é de 5,22% e, no ano, as perdas chegam a 15,79%. Tamanha queda já faz com que economistas estimem um dólar a R$2 nos próximos meses. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) também bateu recordes ontem: atingiu os 31.317 pontos, em alta de 1,43%. Foi o quinto recorde consecutivo apenas esse mês.

O economista Fernando Ribeiro, da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), está entre os que acreditam que a moeda brasileira pode ficar abaixo dos R$2. Neste caso, considerada a inflação ao consumidor e as moedas dos sete principais parceiros comerciais brasileiros, o real atingiria, em termos reais, um patamar próximo ao de dezembro de 1998, período anterior à desvalorização cambial (janeiro de 1999).

No entanto, Ribeiro ressalta que, se for levada em conta a inflação no atacado, que reflete melhor o custo de produção dos exportadores, o dólar deveria estar hoje a pelo menos R$2,70 para se equiparar ao patamar de 1998, ou seja, hoje a moeda brasileira está menos competitiva para as exportações.

¿ Acho que o real está valorizado demais, mas, ao mesmo tempo, nunca tivemos uma pauta exportadora tão forte como a atual, o que poderia empurrar a moeda a níveis inferiores a R$2 ¿ avalia o economista da Funcex.

Taxa de juros alta também pressiona dólar

Fernando Pinto Ferreira, sócio da consultoria GRC Visão, também estima um dólar mais fraco. Segundo ele, são grandes as chances de a moeda americana cair para os R$2 num prazo de seis a nove meses. Para isso, seria necessária uma combinação de fatores: taxa de juros reais (descontada a inflação) se mantendo acima de 10% ao ano (hoje está em cerca de 14%), balança comercial sustentando superávits acima de US$40 bilhões/ano, Banco Central (BC) se mantendo ausente do mercado de câmbio e juros básicos dos Estados Unidos subindo em ritmo moderado.

Nilson Teixeira, economista-chefe do banco Credit Suisse First Boston (CSFB), tem projeções mais conservadoras. Ele estima que o câmbio encerre o ano na casa dos R$2,40, embora admita que seus cálculos possam ser revisados a curto prazo, devido à forte queda do dólar.

¿ Ninguém contava com um câmbio tão baixo. Se alguém dissesse no início do ano, quando o dólar valia R$2,65, que a moeda chegaria nos níveis atuais, seria desacreditado. No entanto, vemos o câmbio testando patamares cada vez mais baixos, sustentado pela elevada liquidez internacional e um excepcional saldo exportador. Por isso, a probabilidade de estarmos errados nas nossas projeções tem aumentado ¿ afirma Teixeira.

Para ele, o cenário benigno pode levar o risco-Brasil para níveis recordes.

¿ Num cenário de câmbio fraco, inflação em queda, sólidos fundamentos, taxas de juros declinantes e bolsa em alta, o risco pode cair ainda mais e romper os 350 pontos centesimais ¿ analisa.

Risco-Brasil cai para 355 pontos centesimais

Ontem, o risco-Brasil marcou 355 pontos centesimais, uma queda de 0,56% em relação à véspera. Para atingir a mínima histórica de 337 pontos, registrada em outubro de 1997, seria preciso uma queda de 5,07% no indicador da confiança dos investidores estrangeiros. A queda do risco levou ontem o Global 40, título mais negociado da dívida externa brasileira, a um novo recorde: 121,58% do valor de face, numa alta de 0,28%.

Em relação à Bolsa, os analistas se dividem. O economista do CSFB estima que, a curto prazo, o mercado poderia chegar aos 35 mil pontos. Já Ferreira, da GRC Visão, aposta numa Bolsa a 40 mil pontos. Projeções à parte, a tendência, dizem, é de alta.