Título: DANELON CONFIRMA QUE ROUBOU EM TRÊS JOGOS
Autor: Antonio Nascimento
Fonte: O Globo, 29/09/2005, Esportes, p. 34

Juiz, que atuou no Paulistão, recebeu R$30 mil de Gibão. Outro árbitro será ouvido

SÃO PAULO. Com a promessa de delação premiada, o árbitro Paulo José Danelon confessou, ontem, ter recebido R$30 mil para influenciar nos resultados de três jogos do Campeonato Paulista deste ano. Em depoimento de cinco horas na Superintendência da Polícia Federal, Danelon, que admitiu ter recebido R$10 mil por partida, evitou envolver outros árbitros no esquema. A Polícia Federal, no entanto, pretende ouvir nos próximos dias o juiz paulista Romildo Correa, que também teria sido procurado para fazer parte da máfia do apito pelo empresário Wanderlei Pololi, o mesmo que fez a ponte de Danelon com o empresário Nagib Fayad, o Gibão.

Danelon confessou ter recebido o dinheiro para influenciar nos resultados dos jogos entre Corinthians e Ponte Preta, Guarani e Atlético de Sorocaba e Portuguesa Santista e União São João. As vitórias de Corinthians e União São João, além do empate entre Guarani e Atlético Sorocaba, renderam mais de R$100 mil a Gibão, que participa de grupos de apostas em sites na internet.

Armando Marques esteve na mira da quadrilha

Aos promotores José Reinaldo Carneiro e Roberto Porto, do Grupo de Ação de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), Danelon explicou como funcionava o esquema. Disse que, para adulterar resultados, tinha como conduta a marcação de faltas em jogadas no meio do campo, ¿a fim de amarrar o jogo¿, inversão de faltas e marcação ou não de pênaltis. ¿Às vezes, também deixava iniciar a partida e nos minutos iniciais observava o jogo fluir para traçar a estratégia de adulteração de resultado¿, disse Danelon.

O juiz lembrou que deixou de ganhar mais R$10 mil num jogo entre Santos e Guarani, uma vez que Gibão apenas o pagaria se o Santos ganhasse. No intervalo do jogo, Danelon disse ter conversado, inclusive, com o técnico do Santos para orientá-lo sobre como ¿chegar à área do adversário¿. Ao fim da partida, Gibão teria consolado o árbitro dizendo que o jogador Basílio, do Santos, perdeu um gol que ¿nem sua mãe perderia¿.

Carneiro disse que Danelon não teve a prisão temporária decretada porque ele se apresentou espontaneamente. Como optou pela delação premiada, responderá o processo em liberdade. Até as 21 horas de ontem, o juiz Edílson Pereira de Carvalho e Gibão continuavam presos, mas ambos deverão ser soltos hoje por estarem colaborando com a Justiça.

O promotor informou ainda que ouvirá o ex-árbitro João Paulo Araújo, de Piracicaba, que disse conhecer um esquema de corrupção da máfia. Ele foi procurado pelo grupo de Gibão para ajudar a acertar com a Comissão de Arbitragem da CBF a manipulação de resultados, mas não levou a missão adiante. Araújo disse que ganharia de R$20 mil a R$30 mil por semana e que seria oferecido ao diretor da comissão, Armando Marques, R$80 mil semanais.

¿ Mesmo tendo uma boa relação com o Armando, jamais faria um serviço deste tipo ¿ disse.

Gibão: calote em Edílson no jogo Vasco x Figueirense

Em seu depoimento ao Ministério Público, revelado pela TV Globo, Gibão disse que conheceu Danelon em casas de bingo de Piracicaba. O juiz teria lhe oferecido a ajuda em algumas partidas em troca de dinheiro, mas não houve acerto entre os dois. Segundo ele, Danelon lhe disse que a Federação Paulista costuma favorecer o Marília.

No depoimento, Gibão afirmou que se tornou um apostador compulsivo de cassinos e jogos clandestinos, com apostas que chegavam a R$100 mil. Ele confirmou que pagou R$40 mil a Edílson Pereira de Carvalho por quatro jogos em que o resultado foi fabricado: Banfield x Alianza, de Lima, pela Copa Libertadores, Figueirense x Juventude, pelo Brasileiro, e duas pelo Campeonato Paulista: Guarani x Corinthians e América x Palmeiras. Segundo Gibão, o jogo entre Vasco e Figueirense também foi encomendado mas ele não chegou a pagar o juiz pelo serviço.

O empresário disse ainda que Edílson se ofereceu para ajudá-lo em outros quatro jogos: São Paulo x Corinthians, Fluminense x Brasiliense, São Caetano x Inter de Limeira e Cruzeiro contra outro time de que ele não se lembrava. Gibão disse que recusou a proposta.