Título: Três no páreo
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 27/09/2005, O Globo, p. 2

Com dez candidatos anunciados, a eleição do novo presidente da Câmara vai amanhã para um segundo turno noite adentro. Ontem ninguém se mexeu, ninguém renunciou em favor de outro. Mesmo assim, a disputa se afunilou entre três candidatos: o da base governista, Aldo Rebelo; o da oposição PFL-PSDB, Thomaz Nonô; e o novo príncipe do baixo clero, Ciro Nogueira, do PP.

Na avaliação dos aritméticos da Câmara, Aldo teria uma ligeira vantagem e os outros dois estariam embolados. O líder pefelista Rodrigo Maia, por exemplo, avalia que Aldo deve ter entre 150 e 180 votos e que Nonô e Ciro teriam, cada um, entre 120 e 150 votos. Todos investiram muito, e em vão, na desistência e no apoio dos outros candidatos. Malogrou a conversa de Michel Temer, do PMDB, com a cúpula do PFL: ele se manteve candidato e trocaram apenas promessas recíprocas de apoio no segundo turno. Ciro Nogueira também não obteve a desistência nem de Temer nem de João Caldas, do PL, ou de Luiz Antônio Fleury, do PTB. Francisco Dornelles, candidato oficial do PP, refugou acordos avisando que vai até o fim. Se algum deslocamento acontecer nas próximas horas, pode ser decisivo para a escolha dos finalistas, mas dificilmente favorecerá um quarto candidato.

As hipóteses de segundo turno que tenha Ciro Nogueira como um dos concorrentes são muito interessantes. Podem aplicar uma saia justa tanto na oposição como nos governistas, desafiando-os a colocar o interesse da instituição acima da luta política.

Numa disputa entre Ciro e Aldo, por exemplo, o que fará a oposição? Votará em Ciro para derrotar o governo, mesmo sendo ele um herdeiro de Severino Cavalcanti? Ou a contragosto votará em Aldo?

A mesma pergunta cabe aos governistas na hipótese de um segundo turno entre Nonô e Ciro. Votarão no pefelista ou assumirão a responsabilidade por uma solução que será vista como de continuidade da era Severino? Este, por sinal, estaria atuando nos bastidores pelo pupilo.

Ciro tem se esforçado para mostrar que ele e Severino são amigos, mas que não são a mesma coisa. Ele de fato tem outro verniz, tal como os filhos de oligarcas que fazem o curso superior. Mas não por acaso foi ele o primeiro a rasgar o acordo por uma campanha austera e levou as ¿ciretes¿ ¿ recepcionistas contratadas ¿ para a Câmara.

Uma vitória de Nonô deixaria o governo enlaçado na crise de que começa a sair. Já uma vitória de Aldo lhe daria um inesperado fôlego para os próximos 12 meses.

O presidente Lula ouviu ontem do ministro Jaques Wagner uma avaliação otimista sobre a situação de Aldo. Foi de Lula a avaliação de que o PT não teria chances com nenhum nome, forçando a troca de Arlindo Chinaglia pelo ex-ministro.

¿ O PT mostrou maturidade e desprendimento. E o Aldo é um candidato para ninguém botar defeito: democrata, infenso aos holofotes, disposto ao diálogo e comprometido com a independência dos poderes. Tudo o credencia a ter não apenas o apoio da base, mas de setores de setores da oposição -¿ diz o ministro Jaques.

Mas de alguns petistas ele recebeu torpedos, e o conjunto da base não despertou maior entusiasmo. O que mais se destaca nesta eleição é a desordem e o racha dos partidos, este extremamente exposto no caso do PMDB, no qual o grupo de Renan e Sarney apóia Aldo, provocando iras na ala de Michel Temer.