Título: CARTÃO VERMELHO PARA MÁFIA DO APITO
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 27/09/2005, Esportes, p. 32

Promotores revelam que estão desvendando um grande esquema de corrupção

Os promotores José Reinaldo Guimarães Carneiro e Roberto Porto, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual de São Paulo, confirmaram ontem à noite, depois de ouvirem o árbitro Edílson Pereira de Carvalho e o empresário Nagib Fayad, que estão desbaratando a Máfia do Apito. Como apenas os dois ouvidos estão presos, os promotores e o delegado Protógenes Queiroz, da PF, não quiseram divulgar os rumos das investigações para não atrapalhar os próximos passos.

¿ Não vamos adiantar coisa alguma. A operação conjunta Polícia Federal e Gaeco desmantelou a Máfia do Apito que havia se instalado no futebol brasileiro ¿ disse José Reinaldo Guimarães Carneiro.

As investigações do MP com a PF, que começaram entre o final de março e o começo de abril deste ano, envolvem três promotores de Justiça do Gaeco, dois delegados de e 17 agentes federais.

¿ Ninguém poderia abortar uma operação pensando só no risco do campeonato, na perspectiva de que houvesse um patamar superior. Essa era a preocupação. Não poderíamos, sob o risco de não pegar a organização inteira, antecipar provas ¿ disse José Reinaldo.

Paulo Danelon, outro suspeito, deve depor amanhã

Outras questões relevantes que foram identificadas durante as investigações, como operações de lavagem de dinheiro, fraudes fiscais e sites clandestinos de apostas que estão no ar, serão investigados.

¿ Não nos fixaremos em nenhum ponto que tire o foco da Máfia do Apito. É importante para a gente, a Polícia Federal e o Ministério Público, a certeza de que nós desmantelamos um esquema que estava funcionando até a semana passada, mas que certamente não está mais funcionando.

Problemas gerados como conseqüência da compra e venda de resultados, como modificações na tabela do Campeonato Brasileiro ou o rebaixamento de clubes, são questões que, para o promotor José Reinaldo Guimarães Carneiro, serão analisadas pela Justiça esportiva.

¿ O nosso foco diz respeito à questão penal ¿ disse, lembrando que estão identificados crimes de falsidade ideológica, estelionato e contra a economia popular.

Edílson Pereira de Carvalho e Nagib Fayad estão colaborando com as investigações dizendo a verdade, por isso serão beneficiados com a delação premiada.

¿ Nossos custodiados estão dizendo a verdade. Isso tem que ser prestigiado porque estamos numa época em que a mentira tem sido muito prestigiada em outras searas ¿ disse, referindo-se à situação política do país.

Nagib Fayad, segundo seu advogado, Cassio Pauletti, prestou o primeiro depoimento jogando a responsabilidade nas costas de Edílson, que teria recebido apenas por três jogos. O advogado afirmou ainda que era o juiz que ligava para o seu cliente oferecendo a venda dos resultados dos jogos que apitava. Segundo relato do advogado, também o juiz Paulo José Danelon teria oferecido a venda de resultados de jogos para Gibão, mas o empresário não concordou com o negócio.

¿ Edílson ofereceu ao meu cliente vários jogos, mas ele só pagou por três. Edílson ofereceu o jogo Vasco e Figueirense, mas o Gibão não pagou. O pessoal do site não mostrou interesse ¿ contou Pauletti, tentando minimizar a participação de seu cliente, afirmando que ele não fazia apostas milionárias como diz a juíza Antonia Farah, de Jacareí, que determinou sua prisão temporária

¿ Eram apostas só de R$500 a R$2 mil por jogo ¿ disse Pauletti, negando que seu cliente tenha faturado mais de R$1 milhão desde que o esquema começou.

Edílson Pereira de Carvalho teria ainda citado em seu depoimento o árbitro Romildo Correia, que negou participar do esquema:

¿ O Edílson teria ouvido que eu participava, mas isso não é verdade. Ele não deveria dizer uma coisa que não sabe ¿ garantiu Romildo.

Já o juiz Paulo José Danelon, outro citado por Edílson e que mora em Piracicaba, como Fayad, negou, através de seu advogado, fazer parte da quadrilha. Ele deve depor amanhã na Polícia Federal.