Título: Planalto jogou duro até com Ciro e propôs acordo
Autor: Isabel Braga e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 28/09/2005, O País, p. 8

`Vou ganhar, quero o apoio do governo¿, reagiu candidato

BRASÍLIA. A candidatura do deputado Ciro Nogueira (PP-PI), o herdeiro dos votos de Severino Cavalcanti no baixo clero, amanheceu forte ontem, mas foi sendo minada pelo governo e, antes da hora do almoço, já dava sinais de enfraquecimento. De manhã, até pefelistas admitiam, nos bastidores, que Ciro poderia tirar José Thomaz Nonô (PFL-AL) do segundo turno. No início da manhã, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, telefonou para Ciro e foi direto:

¿ Como podemos tentar um acordo? Você pode nos apoiar? Não é bom para a imagem do governo chegar dividido.

Ciro, confiante no apoio do PTB, do PL e de Severino, disse ao ministro que não retiraria sua candidatura.

¿ Eu vou ganhar, quero o apoio do governo ¿ respondeu o candidato do PP ao emissário do presidente Lula.

Não foi a única tentativa de aproximação do Palácio do Planalto. Pelo menos três interlocutores tentaram uma conversa de Ciro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em vão.

¿ Vou estar no segundo turno. Minha conversa com o Lula é para depois da eleição ¿ avisou Ciro.

Sem conversa com Ciro, o governo investiu em acordo com o PL e o PTB. Ainda de manhã o entusiasmo da candidatura Ciro Nogueira era medido pelo empenho de Severino Cavalcanti, que transformou seu apartamento funcional num pequeno quartel-general de campanha de onde não parava de telefonar para deputados do chamado baixo clero. Severino mapeou deputados que ele ajudou com favores pessoais durante sua breve passagem pela presidência da Câmara. E orientou antigos assessores a ajudarem Ciro na campanha.

Candidato se irrita com interferência do governo

No fim da manhã, no entanto, ao tomar conhecimento das conversas do presidente Lula com o candidato do PTB, Luiz Antonio Fleury Filho (SP), e do ministro Wagner com a cúpula do PL, Ciro demonstrou irritação com o governo.

¿ Até ontem (segunda) o governo tinha um aliado. Hoje sou um deputado independente. Minha gestão aqui vai ser a da neutralidade ¿ desabafou Ciro com amigos, ao perceber a máquina do governo em ação na campanha.

Em entrevista, o candidato cobrava de Fleury o respeito ao acordo entre PL, PP e PTB, segundo o qual o mais forte dos três teria o apoio dos outros dois partidos, fechado na tarde de segunda-feira:

¿ Eles (o governo) estão tentando tudo o que é possível. Quem for se candidatar que coloque seu nome para valer e não para servir de massa de manobra ¿ afirmou Fleury.

Disparando telefonemas de seu gabinete na segunda vice-presidência, Ciro só tinha um argumento: ¿Não quero seu apoio, só quero seu voto¿, pedia, certo de que seria difícil conquistar declarações públicas de apoio à sua candidatura.