Título: Nonô recebe adesões e fecha acordo com Temer
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 28/09/2005, O País, p. 9

Vou continuar fazendo uma campanha limpa. Não tenho ministério para negociar¿, diz o candidato do PFL

BRASÍLIA. Na gangorra que embala os candidatos que disputam hoje a presidência da Câmara, a candidatura do presidente interino José Thomaz Nonô (PFL-AL), apoiado oficialmente por seis partidos, começou o dia ontem em baixa, mas no início da noite ganhou novo impulso com a possibilidade de apoio do candidato do PMDB, Michel Temer (SP), no segundo turno. Nomes da oposição, Nonô e Temer protagonizaram um ato simbólico de registro conjunto de suas candidaturas. A união dos dois é para enfrentar o governista Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Sentados todos ao redor da mesa da presidência, primeiro Nonô recebeu o registro de Temer. Logo em seguida, recebeu das mãos do líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), o registro de sua própria candidatura subscrita por PFL, PSDB, PPS, PV, PDT e Prona.

¿ Foi uma coincidência. Peguei o vácuo do público que foi levar o registro do Temer ¿ brincou Nonô.

¿ Foi um ato simbólico. Em política tudo é símbolo ¿ disse o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), confirmando a tese do acordo.

Oposição avalia que Nonô terá 150 votos no mínimo

Numa contabilidade mais folgada que a da véspera, ontem a oposição estimava que Nonô pode chegar ao segundo turno com, no mínimo, 150 votos. Contam com cerca de 30 votos dos pequenos partidos, e mais cerca de 100 do PFL e PSDB e outros 20 de todos os partidos, inclusive da base. As negociações não pararam um minuto.

¿ Este quadro pode se alterar nas próximas horas. Temos ainda uma madrugada inteira pela frente ¿ disse Goldman.

As notícias de que o governo havia endurecido o jogo no meio da tarde, com boatos até de negociação de novo ministério para o PL, irritaram a oposição.

¿ Vou continuar fazendo uma campanha limpa, mesmo porque não tenho ministério para negociar. Se o outro lado quer fazer a prática da negociação heterodoxa, o que posso fazer? Não sei se isso funciona. Enganam o enganador, negociam e o cara vai lá na urna e crau! Garanto que tenho votos lá no PL ¿ ironizou Nonô.

Mesmo com a manutenção da candidatura de Alceu Collares (PDT-RS), o PDT formalizou o apoio a Nonô. Ele disse que sua percepção é que estará no segundo turno com o candidato Aldo Rebelo. Com liberação de emendas ao orçamento e esforço concentrado de ministros e do próprio presidente Lula, Nonô disse que não pode subestimar a força do governo. Mas alfinetou:

¿ Eu na presidência da Câmara poderia dar muito mais apoio ao governo do que os áulicos, os subservientes e os fisiológicos.

Ele voltou a dizer que não há motivos para Lula temer, pois não pretende encaminhar um pedido de impeachment descabido, e abrir assim uma crise colossal no país.

¿ Essa é uma visão paranóica. Tem gente que não sai de casa com medo de lhe cair um avião na cabeça. Mas não esperem de mim nenhuma atitude que não seja com base na Constituição e nos parâmetros jurídicos ¿ disse Nonô ao lado dos dirigentes do PSDB, PV, PFL, PDT, PPS e Prona.

Sobre a ação do governo para promover a candidatura de Aldo, ele diz considerar normal:

¿ Continuo respeitando a posição do presidente Lula. Quem entra nesse tipo de disputa não espera um caminho de rosas ou refresco dos adversários. Mas volto a repetir: o que posso dizer ao presidente Lula é que jamais me moverá o sentimento do antagonismo na presidência.

Nonô participou de reuniões com vários segmentos de parlamentares. No encontro com a bancada dos evangélicos, foi cobrado sobre sua posição a respeito do casamento gay. Tergiversou e disse que esse tema só interessava à mídia e apenas dois ou três países desenvolvidos haviam adotado a prática. Ouviu a reclamação de que estava minimizando o assunto.

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