Título: Lavagna diz que Argentina continuará adotando restrições contra o Brasil
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 04/11/2004, Economia, p. 23

O ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, prometeu aos industriais de seu país continuar adotando medidas protecionistas contra o Brasil caso surjam novos conflitos entre os dois países. A informação foi publicada ontem pelo jornal ¿El Cronista¿.

¿Se aparecem problemas setoriais, aplicaremos cotas ou sobretaxas¿, disse Lavagna, na última terça-feira, aos membros argentinos do Conselho Empresarial do Mercosul, grupo também integrado por industriais brasileiros, de acordo com o jornal.

Os setores considerados sensíveis pela Argentina, que asseguram ser vítimas de uma invasão de produtos provenientes do Brasil e que desencadearam uma verdadeira guerra comercial entre os dois principais sócios do Mercosul, representam apenas 4% do total das importações de produtos brasileiros no mercado argentino. O dado foi revelado ontem, em relatório do Centro de Estudos Bonaerense (CEB).

Este ano, a Argentina implementou medidas protecionistas contra as importações de máquinas de lavar e televisores fabricados na Zona Franca de Manaus. Paralelamente, a forte pressão exercida pelos empresários argentinos obrigou o Brasil a limitar voluntariamente suas exportações de têxteis, calçados, geladeiras e fogões. No entanto, apesar de todas as concessões feitas pelo governo brasileiro, nos primeiros dez meses deste ano, o Brasil acumulou um superávit comercial de US$ 1,529 bilhão com a Argentina, de acordo com dados do CEB.

Kirchner estaria negociando empréstimo com a China

A intenção do governo Néstor Kirchner é incluir no Mercosul mecanismos que permitam a aplicação de salvaguardas (medidas protecionistas no jargão diplomático). Em setembro passado, em visita a Brasília, Lavagna apresentou várias idéias aos ministros Antônio Palocci, da Fazenda, e Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento.

Por exemplo, a criação de dois instrumentos que, na visão do governo brasileiro, ferem os princípios básicos do Mercosul. O primeiro permitiria a aplicação de cotas às importações de um determinado país caso sejam registradas fortes alterações nas condições macroeconômicas que alterem os fluxos comerciais entre os países do bloco.

O segundo procedimento defendido pela Argentina é uma medida que poderia ser aplicada em casos de aumento sensível das importações de um determinado setor. O problema é que as normas do Mercosul proíbem a aplicação de salvaguardas entre os países do bloco.

Em meio aos conflitos com o Brasil, o governo Kirchner tenta chegar a um acordo com seus credores externos e poderia, segundo rumores divulgados ontem pelo jornal ¿Clarín¿, negociar um crédito de US$ 20 bilhões com a China para saldar a dívida da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O boato não foi confirmado pelo governo, mas gerou um clima de forte expectativa no país.