Título: Bin Laden ameaça revidar mortes no Iraque
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Fonte: O Globo, 04/11/2004, O mundo, p. E-9

Numa versão integral do vídeo parcialmente divulgado pela TV árabe al-Jazeera semana passada, o terrorista saudita Osama bin Laden ameaça retaliar os Estados Unidos pelas mortes no Iraque. A gravação, com 18 minutos de duração, foi veiculada ontem por um site usado por islamitas, ao mesmo tempo em que, nos Estados Unidos, era confirmada a reeleição do presidente George W. Bush. No vídeo, Bin Laden afirma que Bush jogou os EUA num atoleiro ao invadir o Iraque e promete revanche.

Segundo o terrorista, o presidente americano ignorou seus conselhos para evitar ¿uma guerra injustificada no Iraque, para a qual não haverá fim¿. Foi a primeira ameaça explícita de Bin Laden contra os Estados Unidos por causa do Iraque.

¿ O ouro negro (petróleo) o cegou e colocou seus interesses pessoais acima dos interesses do seu país. O dinheiro americano foi desperdiçado e Bush ficou preso num atoleiro no Iraque ¿ disse Bin Laden.

Os trechos da gravação que falam das mortes no Iraque foram suprimidos pela TV Al Jazeera na sexta-feira passada.

¿ Lembrem que para cada ação há uma reação ¿ ameaça o terrorista no vídeo, datado de 24 de outubro.

Iraquianos reagem com indiferença à eleição

Se as mortes no Iraque foram pretexto para Bin Laden tentar tumultuar as eleições americanas, em Bagdá a população parecia alheia ao resultado das urnas, que deram mais quatro anos ao governo Bush. Os iraquianos se diziam preocupados demais em tentar sobreviver para perderem tempo acompanhando os votos nos EUA.

¿ Estamos muito ocupados com nossos próprios problemas, com as explosões diárias e a falta de estabilidade, para nos preocuparmos com a vitória desse ou daquele candidato ¿ afirmou Georges Butros, dono de uma mercearia em Bagdá.

Enquanto redes de TV do mundo inteiro mostravam voto a voto as eleições nos EUA, no Iraque a maioria dos televisores estava sintonizado em programas religiosos que celebravam o Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos. Só as tropas americanas se interessavam pela cobertura das eleições.

O dia foi de violência no Iraque. Aeronaves americanas lançaram novo bombardeio sobre Falujah. Em Bagdá, um carro-bomba matou um guarda iraquiano e feriu sete civis numa estrada de acesso ao aeroporto. Um cidadão americano nascido na Líbia foi seqüestrado por rebeldes e um bando armado matou um ex-ministro iraquiano. Um grupo insurgente divulgou um vídeo com três membros da guarda nacional do país que teriam sido decapitados.

Os seqüestradores da irlandesa Margaret Hassan, diretora da Care International no Iraque, enviaram um vídeo à TV Al Jazeera, que não o divulgou ¿devido às condições em que a refém era apresentada¿. O grupo ameaça matar Hassan nas próximas 48 horas se as tropas britânicas não deixarem o Iraque. Uma pessoa que assistiu à fita contou à Reuters que a gravação mostra a refém desacordada e recebendo baldes d¿água no rosto para ser reanimada.

Ontem, a Hungria avisou que vai retirar seu efetivo de 300 homens no Iraque até março.