Título: MAIORIA DAS ARMAS DO CRIME TEVE ORIGEM LEGAL
Autor: Toni Marques
Fonte: O Globo, 04/10/2005, O País, p. 10

Dados da Secretaria de Segurança do Rio mostram que armamento da população é desviado para ações criminosas

Quase dois terços das das armas apreendidas com criminosos no Rio de Janeiro nos últimos seis anos estão ou estiveram nas mãos de pessoas físicas sem antecedentes criminais. É o que mostram dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado, analisados pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser) e pelo Viva Rio. Os números indicam que, de 86 mil armas apreendidas em ocorrências criminosas desde 1999 e registradas nas 79 Delegacias Legais do estado, 61% pertencem ou pertenceram aos chamados cidadãos de bem, sem envolvimento com o crime.

Do total de armas apreendidas, 33% eram do chamado estoque legal ¿ com registro nos cadastros estadual ou nacional, seja em nome de pessoa física ou de pessoa jurídica. Outras 39% eram do estoque informal ¿ originalmente pertenciam a pessoas sem antecedentes criminais, mas nunca foram registradas oficialmente. Apenas 28% tinham origem criminosa e eram produto de contrabando.

A pesquisa mostra também que, do total de armas registradas, cerca de dois terços pertenciam a pessoas físicas, contra um terço pertencente ao patrimônio do Estado (polícias, Forças Armadas etc.).

Para Rubem César Fernandes, do Viva Rio, a pesquisa é um argumento único a favor do desarmamento no Brasil, em termos de estatísticas de secretarias de Segurança Pública quanto à origem das armas por tipo de crime.

No tráfico, 51% das armas são de origem legal

Outro dado que ele considera surpreendente é o das armas do tráfico: 51% eram revólveres que pertenceram a cidadãos sem antecedentes criminais. Isto mostra que os soldados da primeira linha do tráfico não têm o poderio de fogo de gerentes e demais traficantes, que se valem de fuzis.

¿ Essas armas (das pessoas de bem) estão parando nas mãos dos bandidos. Então nós estamos comprovando que nós temos que desarmar ¿ disse a governadora Rosinha Garotinho (PMDB), que declarou seu voto pelo ¿Sim¿ no referendo do próximo dia 23.

Segundo ela, no primeiro semestre deste ano o índice de homicídios foi 25% menor do que o do primeiro semestre de 1995. Ela aproveitou a divulgação da pesquisa para pedir providências ao governo federal no combate ao tráfico de drogas e à entrada ilegal de armas.

A grande maioria das armas é brasileira, mesmo no estoque informal: 81% delas foram fabricadas no Brasil, contra apenas 19% de estrangeiras. Mas muitas das armas brasileiras saíram do Brasil para o Paraguai e de lá retornaram ilegalmente.