Título: Lula: povo tem de ter cautela com o denuncismo
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 04/10/2005, O País, p. 9

Em discurso na Fiesp, presidente diz `que deputados estão com dificuldades para apurar a concretude das denúncias¿

SÃO PAULO. Em meio à crise que se arrasta há mais de quatro meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou ontem o que chamou de denuncismo contra o governo e o PT, cobrou coerência dos empresários e destacou como prova de solidez de sua gestão o fato de a economia não ter sido atingida. Falando a executivos na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Lula afirmou que o país tem vivido ¿subordinado a denúncias¿, mas que mentiras e verdades aparecerão:

¿ O Brasil vive subordinado a centenas e centenas de denúncias. Eu disse outro dia que as mentiras e as verdades iam aparecer. O povo só precisa ter cautela porque o denuncismo ficou solto quatro, cinco meses. Acho que os deputados estão com dificuldades para apurar a concretude das denúncias. O Brasil vive um momento em que as denúncias aparecem e não se concretizam.

Lula disse ainda que durante as investigações não houve pedidos de desculpas ou retratação. E cobrou coerência do empresariado sobre os juros:

¿ Durante a campanha fiz muito debate com empresários e as coisas que mais diziam era que o Banco Central tinha que ter autonomia. Agora, querem que eu determine a política de juros. Vocês (empresários) cobraram de mim durante dez anos que o câmbio fosse flutuante e agora querem que eu determine o valor da moeda. Essas coisas vão acontecer à medida que mercado, governo e sociedade perceberem que a seriedade veio para ficar.

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, rebateu o presidente:

¿ Não acredito em desenvolvimento sustentado com os juros mais altos do mundo.

Para Lula, o governo trabalha ¿com muito cuidado¿ para não permitir que a crise crie problema na economia brasileira.

¿ Houve poucos momentos na história econômica em que tivemos uma combinação de fatores tão positivos como estamos tendo agora. Alguém poderia dizer quer o Brasil poderia crescer mais, é verdade. Alguém poderia dizer que os juros poderiam estar mais baixos, é verdade. Mas antes de fazer críticas, precisamos reparar o que está acontecendo na economia.

O presidente destacou o crescimento das exportações e importações, sobretudo de bens de capital, o que, disse ele, significa que as empresas estão acreditando na reestruturação:

¿ Estou dizendo que não há volta para o Brasil. O país finalmente encontrou o caminho de crescimento sustentado para que num médio prazo deixe de ser eternamente em via de desenvolvimento e seja definitivamente um país desenvolvido. Depende única e exclusivamente de nós. Mas temos que reconhecer o que aconteceu no país no último período.