Título: MUDANÇA NO PIB TORNARÁ MAIS CLARAS CONTAS DO SETOR PÚBLICO E FINANCEIRO
Autor: Cássia Almeida e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 04/10/2005, Economia, p. 20

IBGE vai revisar série de dados sobre expansão da economia desde 1990

O cálculo do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas geradas pelo país em um ano) vai mudar e tornará possível conhecer melhor dois setores-chave da economia brasileira: a administração pública e o sistema financeiro. As mudanças na forma de medir o crescimento da economia só aparecerão em 2006, quando o IBGE divulgará os novos números do PIB e fará uma revisão da série histórica desde 1990.

O instituto apresentou ontem a nova metodologia do PIB, que ampliará o universo da contabilidade nacional. Até hoje, eram investigados 43 atividades e 80 produtos. Agora, serão 56 ramos e 104 produtos. No caso da administração pública e do sistema financeiro, dados que antes eram apenas estimados agora serão de fato calculados.

¿ Antes, imputávamos um valor de expansão da administração pública pelo crescimento populacional. Agora, vamos aferir esse setor ¿ explicou Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE.

A inflação explosiva até meados da década de 1990 impedia o cálculo preciso desses dois setores. No caso do sistema financeiro, o IBGE atribuía uma expansão equivalente à da economia como um todo. Agora, o instituto vai medir o comportamento dessa atividade, que vem apresentando lucros recordes ano a ano.

Tamanho da administração pública deve aumentar

Mérida Medina, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirmou que aumentará o valor do setor público com a mudança.

¿ O IBGE não captava a depreciação da máquina estatal. E isso fará aumentar os gastos do Estado, que servem de parâmetro para se chegar à riqueza gerada pelo setor público ¿ explicou.

O IBGE mudará toda a base de cálculo das contas nacionais. Pelo método atual, fazia as contas do crescimento com base na estrutura produtiva de 1985, quando houve o último censo econômico. Esse tipo de levantamento foi substituído pelas pesquisas anuais. Assim, a estrutura do novo PIB será atualizada primeiramente com os dados de 2000 da indústria, comércio, serviços, construção civil e de domicílios. Depois, essa base de dados será atualizada anualmente.

Segundo Olinto, o instituto também vai tentar captar melhor a informalidade. Como as pesquisas econômicas não levantam o desempenho de empresas com menos de cinco empregados, o IBGE vai usar as declarações de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica. Também serão incorporadas as informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Analistas não arriscaram fazer projeções para os números do PIB que sofrerão revisão.

¿ Qualquer exercício será adivinhação. Só sabemos que será uma série mais dinâmica, com mais oscilação ¿ disse Guilherme Maia, economista da Consultoria Tendências.