Título: BC VOLTA A COMPRAR DÓLAR MAS COTAÇÃO FICA ESTÁVEL
Autor: Enio Vieira e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 04/10/2005, Economia, p. 21

Instituição não atuava no mercado há quase oito meses. Risco-país cai para 341 pontos e Bolsa tem novo recorde

BRASÍLIA e RIO. Após quase oito meses de ausência, o Banco Central (BC) retornou ontem ao mercado de câmbio para comprar dólares. Pouco depois das 11h, quando a instituição anunciou o leilão, a moeda ¿ que já abrira em alta e valia R$2,232 ¿ chegou a R$2,247 (0,81%). Depois acabou cedendo e encerrou os negócios estável em relação à cotação de sexta-feira, a R$2,229. O BC comprou dólares a R$2,231, pouco abaixo do que valia no momento do leilão. A instituição não divulga o volume adquirido, mas o mercado estima que tenha sido baixo, em torno de US$100 milhões.

A última vez que o BC comprou dólares no mercado à vista (por R$2,74) foi no dia 16 de março deste ano. Em 11 de agosto passado, a instituição anunciou um leilão, mas não aceitou as propostas devido à grande instabilidade no dia e ao depoimento do publicitário Duda Mendonça na CPI dos Correios.

Para o diretor de Câmbio da corretora Novação, Mario Battistel, o BC mantém uma estratégia de não fixar pisos para o dólar, mas sinalizou para o mercado que o nível de R$2,23 é atraente para adquirir reservas e para as empresas com dívidas no exterior. Battistel reforça o coro de analistas que não acreditam na capacidade de o BC fixar hoje uma taxa de câmbio.

¿ Para deixar o dólar numa taxa mais alta, como a de R$2,50, o BC teria que comprar quantidades absurdas de dólares ¿ diz Battistel, que aposta numa cotação mais pressionada do dólar esta semana diante da expectativa de novas compras.

Instituição comprou dólares em momento de fluxo elevado

Hideaki Iha, operador de câmbio da corretora Souza Barros, explica que a atuação do BC não conseguiu manter o dólar num patamar mais alto porque o fluxo de câmbio é maior pela manhã:

¿ O volume de vendas de moeda era muito grande se comparado à compra do BC. Se as aquisições acontecessem próximo ao fechamento dos negócios, quando o volume é fraco, o efeito sobre o câmbio teria sido bem maior.

Segundo ele, o mercado só espera uma grande apreciação do dólar com uma queda mais forte da taxa básica (Selic), o que tende a estimular a migração dos investidores do mercado de juros para o de câmbio, em busca de ganhos maiores. Por enquanto, afirma, atuações como a de hoje devem apenas impedir uma queda mais acentuada da moeda.

O economista-chefe da consultoria Global Invest, Alex Agostini, acredita que deve haver uma desvalorização limitada do real, em torno de 3% a 5%, ao longo dos próximos 30 dias, devido à volta do BC:

¿ Mas, a médio prazo, dentro de três meses, o real deverá retornar à sua trajetória de valorização.

No primeiro trimestre de 2005, a autoridade monetária adquiriu US$10,219 bilhões no mercado de câmbio para reforçar as reservas internacionais. Na semana passada, o Tesouro Nacional anunciou que comprará no mercado local US$11,266 bilhões para o pagamento da dívida externa do setor público em 2006. Este ano, do total de US$12,433 bilhões de vencimentos, uma parcela de US$10,006 bilhões será com aquisições em mercado.

Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) bateu novo recorde de pontuação. Pela primeira vez em sua história, atingiu 31.856 pontos, em alta de 0,86%. No último mês, a Bovespa registrou sete recordes.

Risco-Brasil fica atrás do da Argentina durante o dia

O risco-Brasil caiu ontem 0,58%, para 341 pontos centesimais. Pela manhã, o indicador da confiança dos investidores estrangeiros, calculado pelo banco americano JP Morgan, atingiu 338 pontos, encostando na mínima histórica de 337 pontos, registrada em outubro de 1997. À tarde, o risco chegou aos 342 pontos, atrás dos 341 do risco-Argentina, que decretou moratória há cerca de quatro anos. No fim do dia, porém, o risco da Argentina ficou em 344 pontos.

Fábio Akira, economista do JP Morgan, explica que o cálculo do risco leva em conta apenas os títulos da dívida dos países negociados no mercado. O indicador não significa um cenário econômico melhor na Argentina que no Brasil:

¿ Ainda esperamos um risco-Brasil mais baixo.