Título: Fatos e invenções
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 03/10/2005, O Globo, p. 2

Às vésperas das eleições para a presidência da Câmara um boato tomou conta da Câmara, a de que a redução da cláusula de desempenho, de 5% para 2%, estava servindo de moeda de troca para a obtenção de votos. Nem mesmo a impossibilidade física de votar no prazo legal, na Câmara e no Senado, o relatório do deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), impediu que o zunzum prosperasse.

No calor da luta política havia muitas dúvidas a respeito do eventual acordo, mas agora é o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), quem afirma que isso, de fato, não ocorreu.

¿ O presidente Aldo Rebelo (PCdoB-SP), logo após ter sido eleito, convocou uma reunião não deliberativa para quinta-feira. Isso significa que o que correu na semana passada não corresponde à verdade. Se sua intenção fosse votar ele teria convocado uma sessão deliberativa ¿ diz.

Goldman conta que há três meses os presidentes dos quatro grandes partidos ¿ José Genoino (PT), Jorge Bornhausen (PFL), Michel Temer (PMDB) e Eduardo Azeredo (PSDB) ¿ fizeram um acordo para votar o substitutivo de Caiado, que reduz a cláusula de desempenho.

¿ Aceitamos que fosse votada a redução da cláusula e a criação das federações de partidos porque também aprovaríamos a votação em lista. Com as listas a cláusula não seria tão importante ¿ explica.

Depois disso veio a crise, que paralisou a agenda da Câmara. Mas há três semanas o assunto voltou à pauta quando Goldman foi procurado no plenário pelos líderes do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), do PP, José Janene (PR), e do PL, Sandro Mabel (GO). Os governistas queriam limpar a pauta para votar a emenda, já aprovada no Senado, que acabava com a verticalização das coligações, pela qual é preciso haver coerência entre a aliança nacional e as estaduais.

Mas os tucanos não aceitaram a proposta porque, com a crise, eles voltaram a ser competitivos nas eleições presidenciais. Mudaram de posição porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria o grande beneficiário da decisão. Como é sabido, o PMDB, o PP e o PTB têm enormes dificuldades, por causa dos conflitos eleitorais regionais, de fazer uma coligação formal com o PT. Com o fim da verticalização, e restabelecida a algazarra, esses partidos poderiam apoiar Lula para presidente e nos estados se aliarem a candidatos tucanos e pefelistas aos governos. Esse é o tema que tranca a pauta da Câmara, o resto é só cortina de fumaça.