Título: CPI: Valério pode ter usado Bolsa de Valores de SP para fazer repasses
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 03/10/2005, O País, p. 4

CVM investiga esquema de lavagem de dinheiro no mercado financeiro

BRASÍLIA. A CPI dos Correios investiga a possibilidade de o empresário Marcos Valério ter usado um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro, investigado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para repassar recursos para políticos. Além do sistema de saques em dinheiro vivo e depósitos para aliados do governo, Valério pode ter usado operações na Bolsa de Valores de São Paulo e na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) para fazer os repasses.

Sub-relator para movimentações financeiras, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) apresenta nesta segunda-feira requerimento para quebrar o sigilo bancário de Rosa Alice Valente, que seria uma assessora do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), em Londrina. Ela teria recebido R$113 mil, por ordem da Natimar, empresa de participações e intermediação também investigada por participar do esquema de lavagem do dinheiro por intermédio da corretora Bônus Banval.

Segundo Fruet, Rosa recebeu o dinheiro em depósitos feitos entre 15 de junho e 13 de setembro de 2004 numa conta no Unibanco de Londrina. O repasse de dinheiro para Rosa caracterizaria o recebimento por um político na outra ponta do esquema no mercado financeiro.

¿ Se fosse um simples empréstimo, por que Valério não repassou o dinheiro direto, de uma vez? ¿ questiona Fruet, que quer quebrar também o sigilo bancário de empresas ligadas às corretoras Bônus Banval, Master e dos sócios das duas empresas.

Operações com irregularidades

Com base numa investigação feita pela CVM, a CPI dos Correios já havia encontrado o elo entre o dinheiro que saiu das contas de Valério e o suposto esquema de lavagem de dinheiro no mercado. Relatórios da CVM mostram que a RS Administração e Construção Ltda, controlada pela Sociedad Imobiliária de Investimento, do Panamá, e o corretor autônomo Waldir Vicente do Prado, investigados por terem participado de operações suspeitas, receberam pelo menos R$7,557 milhões de quatro empresas sob investigação da CPI por terem recebido dinheiro de Valério. As operações em nome da RS e de Prado no mercado foram feitas pelas corretoras Bônus-Banval e Master.

A CVM encontrou problemas nos cadastros destes dois clientes (RS e Prado) e nas operações pagas e recebidas em nome de pessoas diferentes do titular das contas nas corretoras, o que contraria a legislação. As corretoras também fizeram operações incompatíveis com o patrimônio e a capacidade financeira dos dois clientes.

Além de Rosa, Fruet quer quebrar o sigilo bancário da Banval Commodities Corretora de Mercadorias Ltda, da Bonus Banval CCTVM, da Bonus Banval Participações, da Bonus Banval Empreendimentos e dos sócios da corretora, Breno Fischberg e Enivaldo Quadrado. A corretora Master, um de seus sócios, Rodolfo Bertola Júnior, e Deusa Maria da Costa Silva, mulher do doleiro Najum Turner, também podem ter o sigilo quebrado a pedido do deputado tucano.

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