Título: ESPAÇO GARANTIDO LÁ FORA, MAS HÁ MUITAS EXIGÊNCIAS¿
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 03/10/2005, Economia, p. 15

BRASÍLIA. A burocracia é tanta, afirma Roberto Rigato, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), que as pessoas não conseguem vencer sozinhas todas as etapas do processo. Há oito anos no mercado, a empresária paulista Sara Chofakian só começou a exportar seus produtos (calçados femininos com design) há 18 meses. Para isso, contratou um especialista, além de ter a ajuda do contador e de um advogado. O gasto mensal é de R$3 mil, sem contar as tarifas.

¿ Temos espaço garantido lá fora. Mas as exigências são tantas que fico insegura de fechar pedidos no exterior e depois não conseguir entregar a mercadoria no prazo ¿ conta Sara, acrescentando que é preciso ver detalhes como medidas exatas da caixa e procedência do material, senão o produto pode ser retido.

José Luiz Fernandez, empresário de móveis do Distrito Federal, lembra dos prejuízos que teve numa das encomendas para o exterior, devido a uma greve dos fiscais da Receita. A mercadoria saiu de Brasília pronta para embarcar para os Emirados Árabes, pelo Rio, mas teve de retornar:

¿ Tive que fazer o processo inverso da exportação. Foi uma amolação danada para abrir o contêiner e mandar parte da encomenda via aérea.

A Receita Federal afirma que as exigências são necessárias para inibir operações ilegais, como lavagem de dinheiro e empresas de fachada. Quanto ao tempo para a mercadoria ser despachada ¿ 15 horas, em média ¿ o órgão lembra que há cinco anos o prazo era de uma semana. A Receita quer reduzi-lo para cinco horas até 2007.

Dados do Sebrae mostram que as micro e pequenas empresas não acompanham as grandes nas vendas externas. Enquanto nos países desenvolvidos a participação do segmento nas exportações supera os 60%, no Brasil não chega a 3%. Um dos obstáculos é o tratamento diferenciado entre as grandes, que podem compensar os impostos pagos, e as pequenas, principalmente as que estão no Simples.