Título: BARRANDO AS PEQUENAS NO EXTERIOR
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 03/10/2005, Economia, p. 15

Empresas criticam as dezenas de taxas que reduzem lucro a 30% do valor do produto

Oexcesso de burocracia, o despreparo de fiscais, a falta de informação e as dezenas de taxas são as principais reclamações dos micro e pequenos empresários que querem vender seus produtos fora do país, de acordo com o Sebrae. E é por isso que muitos exportadores abandonam esse mercado. Não faltam histórias traumáticas de quem se aventurou nessa área. Um grupo de 17 pequenos produtores de cercas para jardim de Rondônia conta que, em vez de lucro, teve um prejuízo de US$45 mil num embarque para Dordrecht, na Holanda.

Segundo Leonardo Sobral, presidente do Sindicato das Micro e Pequenas Empresas (Simpi) em Rondônia, o caminhão carregado de mercadoria foi parado na rodovia duas vezes antes de chegar ao Porto de Manaus. Primeiro, o fiscal alegou que a tal cidade não existia no Norte do país ¿ não tendo atentado sequer que se tratava de um embarque internacional. Depois, disse que faltava na nota fiscal o carimbo de um órgão que havia sido extinto. E, finalmente, quando o produto chegou ao porto, precisou ser descarregado do contêiner por causa de três formigas.

¿ Foi uma exigência da Secretaria de Agricultura do estado do Amazonas que fez com que perdêssemos o navio, que só voltou um mês depois. E o pior de tudo foi a perda do cliente, que não quis mais o produto fora do prazo ¿ conta Sobral.

Envio aéreo para NY custa US$10 mil

Há um despreparo muito grande em todos os níveis da administração federal, afirma Sobral, lembrando-se de um outro episódio. Há pouco mais de um ano, produtores de borracha do Amazonas perderam a oportunidade de vender o produto, que seria usado na fabricação de sola de sapato por empresas mexicanas, porque ninguém sabia informar o preço de referência da mercadoria.

O alto custo das operações é outro grande entrave. Embora não existam cálculos disponíveis sobre quanto custa precisamente exportar no Brasil, especialistas em comércio exterior avaliam que o gasto é elevado, o que torna a atividade quase inacessível para os pequenos empresários.

Raimundo Nonato de Souza, morador do Norte do país, já vendeu terços feito com semente de açaí para a Suíça, por intermédio do Exporta Fácil dos Correios. Mas o preço do frete (R$300 por 32 quilos) o levou a desistir de ampliar o negócio para outros países.

¿ Exportar dá muita dor de cabeça ¿ resume Souza, acrescentando que ganhava US$1 por unidade.

Segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), a quantidade de tarifas com desembaraço, certificados, armazenagem e transporte e manuseio reduz o lucro dos exportadores a 30% do valor total da mercadoria, na média. Com menos burocracia e investimentos em logística (infra-estrutura), seria possível aumentar os ganhos em pelo menos 10%, avalia a entidade.

Para enviar 12 mil pares de sapato para a Argentina, por exemplo, o empresário terá de pagar US$1.650 se levar a mercadoria via transporte rodoviário. Além disso, terá uma despesa total de R$785 com desembaraço (R$300), despachante (R$270), certificado de origem (R$135) e expediente (R$80). E para fechar o contrato de câmbio, terá de desembolsar no mínimo US$100 (cerca de R$225).

Para embarcar a mesma mercadoria via aérea para Nova York, além de uma despesa com transporte de US$10.600, o exportador tem um gasto de US$850 com documentação e manuseio do produto nos aeroportos. Se mandar via marítima, o custo total com transporte e tarifas cai para US$3.250. Se for para Milão via aérea, o gasto sobe para US$13.650. Os cálculos foram feitos pela Abracex, com base em preços cobrados no mercado.

¿ Os países compradores impõem uma série de barreiras, mas o governo brasileiro não colabora ¿ afirma Roberto Rigato, presidente da Abracex.

Ele cita como exemplo o sistema de registro exigido pela Receita Federal, em que o exportador precisa cadastrar a senha a cada 30 dias se não efetuar qualquer embarque nesse período. Rigato ressalta que há outros custos difíceis de serem medidos, como o tempo em que a mercadoria fica parada na alfândega para ser despachada pela Receita Federal.