Título: GELÉIA PARTIDÁRIA
Autor: Adriana Vasconcelos, Gerson Camarotti e Sueli Cott
Fonte: O Globo, 30/09/2005, O País, p. 3

Vice-presidente vai para o partido da Igreja Universal e mudança de partidos é ampla

Na véspera do fim do prazo para as filiações partidárias de quem pretende disputar em 2006 algum cargo eletivo, o troca-troca nos partidos foi intenso. A maior surpresa foi a opção do vice-presidente e atual ministro da Defesa, José Alencar, que, mesmo assediado por vários partidos, se filiou ontem ao recém-criado Partido Municipalista Renovador (PMR), criado pela Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo. Com essa decisão, Alencar afasta definitivamente a possibilidade de disputar a reeleição na chapa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao assinar a filiação, Alencar disse que não é candidato a nada, mas pode ser candidato a qualquer coisa, de deputado estadual a presidente da República. Justificou a escolha dizendo que o PMR é um partido novo:

¿ Eu me desfiliei do partido (PL), mas não foi para me filiar a outro. Foi para voltar para casa, porque fiquei contrariado e triste com a crise.

O senador e bispo da Universal Marcelo Crivella (RJ), que também trocou o PL pelo PMR, disse que o partido vai se manter na base governista, sob a liderança de Alencar:

¿ O apoio será por dever de consciência, mas não nos peçam para apoiar a política dos juros altos.

Alencar arriscou ao se filiar ao PMR. O novo partido conseguiu seu registro definitivo em agosto e poderá mudar de nome, na sua próxima convenção, para Partido Republicano (PR). O senador Aélton Freitas (MG), suplente de Alencar, também foi para o PMR. O partido deve ganhar dois outros filiados de peso: o economista Mangabeira Unger e o ex-ministro Raphael de Almeida Magalhães. Ontem Alencar comunicou o fato a Lula.

¿ O presidente Lula respeitou a saída dele, embora preferisse que ele ficasse no PL. Vários partidos convidaram o vice e ele achou que era melhor começar num partido pequeno, que está começando, para não entrar em conflito com outras pessoas ¿ disse o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner.

Itamar atrai Corrêa para o PMDB

A filiação de Mangabeira e de Raphael de Almeida Magalhães seria uma estratégia do PMR para que sua imagem não fique vinculada só à Igreja Universal. Mangabeira foi um dos coordenadores da campanha de Ciro Gomes a presidente em 2002. Professor de direito da Universidade de Harvard, ele quer ser candidato a presidente no ano que vem. Mas Alencar também está de olho na sucessão de Lula.

Outra expectativa do dia não se confirmou: assediado pelo PSDB nas últimas semanas, o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (MS), decidiu ficar no PT depois de conversar com Lula.

¿ O presidente me pediu para ficar no PT e eu vou ficar ¿ contou Delcídio a amigos.

O senador Leomar Quintanilha (TO) trocou o PMDB pelo PCdoB do novo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (SP). A troca foi ironizada pelo líder da bancada peemedebista, Ney Suassuna (PB), ao lembrar que Quintanilha é fazendeiro:

¿ Ficamos tristes com sua saída. Mas ele vai gostar de ouvir o brado da juventude comunista: Brasil! Araguaia! Queremos a reforma agrária!

A expectativa do PMDB é ganhar dois senadores hoje, quando deverão se filiar ao partido os governadores do Amazonas, Eduardo Braga, e do Espírito Santo, Paulo Hartung. Ontem, o ex-presidente do STF Maurício Corrêa ingressou na legenda a convite do ex-presidente Itamar Franco.

Na Câmara, até ontem, a Secretaria Geral da Mesa registrara 26 mudanças partidárias em setembro. Chamou a atenção a diminuição da bancada petista, que encolheu de 89 para 83 deputados. Além do deputado Miro Teixeira (RJ), que deixou o PT para voltar ao PDT, outros cinco parlamentares foram para o PSOL.