Título: GOVERNO LIBEROU VERBA ATÉ PARA JEFFERSON: R$1 MILHÃO
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 30/09/2005, O País, p. 5

Também Severino e Valdemar, que renunciaram sob suspeita de corrupção, conseguiram emendas de mais de R$1 milhão

BRASÍLIA. A abertura dos cofres públicos às vésperas da eleição para a presidência da Câmara beneficiou três peças-chaves da crise política, que já perderam seus mandatos mas continuam com força em seus partidos. Juntos, os ex-deputados Severino Cavalcanti (PP-PE), Valdemar da Costa Neto (PL-SP) e Roberto Jefferson (PTB-RJ) conseguiram em setembro R$3,4 milhões em emendas do Orçamento, figurando com essa performance entre os campeões de liberação no ano. Os recursos foram empenhados pelo Executivo, o que significa uma promessa de que o dinheiro vai ser liberado.

Presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto renunciou em 1º de agosto, depois de admitir que recebera R$6,5 milhões do esquema Valério/Delúbio. O parlamentar foi o primeiro a abrir mão do mandato para fugir da cassação, mas manteve a influência no partido e teria negociado com o Palácio do Planalto o apoio de seus pares à candidatura de Aldo Rebelo à presidência da Câmara. Valdemar teve R$1,114 milhão em emendas liberado para empenho em setembro, sendo R$420 mil no auge da disputa na Câmara.

Já o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti ¿ que renunciou no dia 21, pressionado pelas denúncias de que teria recebido propina do empresário Sebastião Buani ¿ demonstrou na eleição da Câmara que ainda mantém grande influência sobre o chamado baixo clero. Ele também foi agraciado com a liberação de emendas na semana que deixou o cargo e alguns dias depois. Severino teve R$1,082 milhão em emendas liberado para empenho em setembro, sendo R$592 mil na semana de sua renúncia e R$50 mil no dia 26, quando já deixara o cargo.

Roberto Jefferson tornou-se o principal algoz do governo ao denunciar o mensalão, mas nem por isso deixou de receber tratamento privilegiado em relação às emendas que apresentara. Jefferson foi cassado pelo plenário da Câmara no dia 14 de setembro. Entre os dias 1º e 16 deste mês, foram liberados R$1,2 milhão em emendas do parlamentar. O levantamento sobre a liberação de emendas foi feito pela assessoria técnica da liderança do PFL no Congresso.

O governo jogou duro com os partidos nos primeiros oito meses do ano e manteve as portas do Tesouro fechadas para as emendas dos parlamentares. Já em setembro, esse comportamento mudou. Na sexta-feira, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, anunciou a liberação de R$500 milhões em emendas, a pedido do coordenador político do governo, ministro Jaques Wagner.