Título: LULA DIZ QUE É NECESSÁRIO `MORALIZAR A POLÍTICA PELA BASE¿
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 30/09/2005, O País, p. 9

`Todo mundo hoje tem consciência de que é preciso fazer a reforma eleitoral¿, afirma presidente sobre vitória na Câmara

BRASÍLIA. Feliz com o resultado da eleição na Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu ontem às críticas da oposição e saiu em defesa do novo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Lula disse que Aldo tem autoridade política e moral para presidir a Câmara e a serenidade, a sensatez e a maturidade que a Casa precisa neste momento. O presidente defendeu a aprovação da reforma política ainda este ano, usando o argumento de que é preciso ¿moralizar a política pela base¿.

¿ Se dependesse de mim, sairia (a reforma política). Todo mundo hoje tem consciência de que é preciso fazer a reforma eleitoral. A política, se não for moralizada em sua base, a gente dificilmente conserta o resto ¿ disse o presidente em duas rápidas entrevistas, ontem à tarde, enquanto visitava a II Feira Nacional de Agricultura Familiar e Reforma Agrária, num parque de exposições da capital federal.

Lula responde a perguntas sobre eleição na Câmara

À vontade, Lula parou a caminhada entre os estandes para responder a perguntas sobre a eleição na Câmara.

¿ Aldo tem autoridade política e moral para dirigir a Câmara com a sensatez que ela precisa. O Aldo tem o direito hoje (ontem) de sair e comemorar. O Congresso acertou e a maioria aprovou. Aldo representa nesse momento mais serenidade, maturidade e respeitabilidade para a Câmara ¿ disse Lula, apostando que o ex-ministro ¿será um extraordinário presidente da Câmara¿.

Apesar da euforia, Lula reconheceu que a disputa foi apertada. Embora ressaltando a autoridade de Aldo, numa resposta indireta às cobranças da oposição, não atacou os adversários. Disse ter considerado normal até a tática da oposição de fazer os secretários estaduais reassumirem seus mandatos como deputados só para votar. A manobra foi feita pelo prefeito José Serra (SP) e pelo governador de Goiás, Marconi Perillo, ambos do PSDB.

¿ Na eleição da Câmara, deu o que tinha que dar. Foi uma disputa apertada. Quem acompanhou pela TV viu que o jogo foi muito duro. E a oposição jogou o que tinha que jogar. Teve governadores que dispensaram secretários, que voltaram a assumir o cargo de deputado para votar. É importante lembrar que já teve presidente que foi eleito por um voto de diferença.

Lula estava se referindo ao deputado Michel Temer (PMDB-SP), que foi eleito em 1997 exatamente com 257 votos, a maioria absoluta exigida para eleger o presidente da Câmara em primeiro turno. Mais cedo, ao receber Aldo no Planalto, Lula fez várias brincadeiras:

¿ Olha como o Aldo está elegante! ¿ disse Lula, dando-lhe um grande abraço e até ficando de mão dadas com ele diante dos fotógrafos.

Encontro na terça-feira com Renan e Aldo

Um segundo encontro foi marcado para terça-feira, com a presença do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para discutir uma pauta de votações no Congresso.

Ao fim da visita à Feira, o presidente pôs um chapéu de cangaceiro e convocou os expositores a oferecer produtos típicos aos visitantes, como um chimarrão e uma ¿cachacinha das Minas Gerais¿. Depois de dar as entrevistas, Lula discursou num coreto montado no meio dos estandes. Além do chapéu de cangaceiro, Lula colocou um boné branco, tomou chimarrão e ganhou vários objetos artesanais. Na saída, Lula brincou que iria dar ¿um dinheirinho¿ para dona Marisa gastar na feira.

Já o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, que estava ao lado de Lula, disse que a relação com a Câmara será respeitosa e que Aldo não será nem uma extensão do Planalto nem o centro da oposição. O ministro disse que o governo aceita retirar medidas provisórias da pauta para facilitar a aprovação da reforma política.

¿ E, para nós, isso é mais do que suficiente. Aldo é de um partido pequeno, e, nesse sentido, não ameaça os outros partidos. O presidente está super satisfeito com a reaglutinação da base e eu, que estava muito cansado, comemorei muito menos do que queria ¿ brincou o ministro.

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