Título: VITÓRIA DOS COMPANHEIROS, FESTANÇA DOS CAMARADAS
Autor: Lydia Medeiros e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 30/09/2005, O País, p. 10

Eleição do deputado comunista foi comemorada em restaurante e na Granja do Torto

BRASÍLIA. Comunistas e aliados de todas as cores partidárias fizeram uma festa que entrou pela madrugada de quinta-feira para comemorar a vitória do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) nas eleições para a presidência da Câmara. Ministros e deputados tomaram conta do restaurante Francisco Grill, no Lago Sul, e formaram uma grande mesa de 50 metros regada a cerveja, chope, vinho tinto e prosecco. Quando Aldo chegou, depois das 22 horas, os presentes, já livres da pressão da apertada vitória, se levantaram e gritaram: ¿Viva a união do povo brasileiro!¿.

A festa da vitória começou no gabinete do presidente da Câmara, logo após o encerramento da sessão, quando Aldo e cerca de 30 deputados aliados trocaram abraços e apertos de mão. Naquele momento ficou decretado que a expressão ¿companheiro¿, terminologia usada pelos petistas para se referir aos correligionários, tinha saído de moda, substituída pela expressão ¿camarada¿, forma pela qual os comunistas se tratam.

¿ Camarada Miguel! ¿ disse o líder do PL, Sandro Mabel (GO), dirigindo-se ao deputado Miguel de Souza (PL-RO):

¿- Acabou esse negócio de companheiro aqui. Agora é camarada. Como pode um capitalista ajudar a eleger um comunista? ¿ respondeu Mabel a Miguel, um dos principais articuladores dos interesses da Confederação Nacional da Indústria (CNI) na Câmara.

A partir daí todos passaram a se tratar de camarada. Um bem humorado petista, Carlito Mers (SC), entrou na sala contando o que se falava no Salão Verde: ¿Estão dizendo que nove camaradas do PCdoB fizeram o que 90 companheiros do PT não conseguiram¿. Ali mesmo começaram a combinar onde seria a festa da vitória e coube a Professor Luizinho (PT-SP) vetar a escolha de uma churrascaria que se tornou símbolo do deslumbramento petista no poder.

¿ Esse negócio de Porcão acabou, estamos em nova fase ¿ disse.

Aldo repetia um comentário curto sobre as horas anteriores:

¿ Foi sofrido.

Já no restaurante, Aldo foi de cadeira em cadeira cumprimentando os presentes. Logo depois chegaram da Granja do Torto, onde estiveram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os ministros Ciro Gomes (da Integração Nacional), e Jaques Wagner, das Relações Institucionais.

¿ Graças a Deus!. A gente precisava disso para levantar este governo ¿ comentou Wagner.

Aldo não foi à festa na Granja do Torto. Em entrevista ao programa ¿Bom Dia Brasil¿, da TV Globo, ontem, o presidente da Câmara foi perguntado por que não tinha ido à comemoração.

¿ Porque não fui convidado ¿ respondeu.

Na Granja do Torto, Lula reuniu-se com os petistas Arlindo Chinaglia, Paulo Delgado (MG), José Eduardo Cardoso (SP) e Sigmaringa Seixas (DF). Ele afirmou que todos foram fundamentais, mas fez questão de cobrir de elogios o líder do governo, que desistiu da candidatura.

¿ Arlindo, o seu gesto foi o começo de tudo ¿ disse Lula. ¿ Essa vitória era o que a gente precisava.

Chinaglia parecia bem feliz. No restaurante até trocou beijinhos na face com Professor Luizinho.

A cúpula do PTB prestigiou a festa: o líder José Múcio (PE), o presidente da CNI, deputado Armando Monteiro (PTB-PE), e os deputados Luiz Piauhilino (PDT-PE) e José Chaves (PTB-PE). No meio da mesa onde estavam sentados a mulher de Aldo, Rita Polli, e um de seus melhores amigos, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), um bolo de folhas de cheque, recibos de cartão e notas de dinheiro foi se formando.

A despesa da mesa do presidente da CNI e do líder do PTB, onde foram consumidas várias doses de cachaça e uísque, além de uma garrafa de cabernet Gran Tarapacá, chegou a R$427, que ficaram espetados na conta do homenageado da noite.

A uma da manhã, Aldo e o líder Renildo Calheiros deixaram a festa por meia hora, e foram até a casa do presidente do Senado, Renan Calheiros(PMDB-AL), para fazer um brinde com o senador José Sarney (PMDB-AP) e um grupo de senadores que lá estava. Mas no restaurante os festejos prosseguiram. Entusiasmado, Jaques Wagner repetia em todas as rodas referindo-se à operação de guerra montada pelo governo:

¿ Ganhamos e não vendi nem a minha alma e nem a alma do governo.

O clima de euforia tomou conta do Palácio do Planalto com a vitória de Aldo Rebelo. O presidente Lula vibrou com o resultado.

COLABOROU Cristiane Jungblut