Título: CPI: CONTABILIDADE DERRUBA VERSÃO DE VALÉRIO SOBRE EMPRÉSTIMOS
Autor: Bernardo de la Peña e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 30/09/2005, O País, p. 12 e 13

Documentos comprovariam que os R$55,9 milhões repassados a partidos a mando do PT não teriam saído de operações de crédito no BMG e no Rural

BRASÍLIA. Documentos apreendidos pela Polícia Federal no escritório do contador Marco Aurélio Prata, em Belo Horizonte, mostram que a contabilidade da agência SMP&B dos anos de 2004 e 2005 não registra a concessão de empréstimos ao PT. O material, recebido ontem pela CPI dos Correios, é mais um documento para derrubar a versão do empresário Marcos Valério de que os R$55,9 milhões repassados a políticos aliados do governo teriam saído de operações de crédito nos bancos BMG e Rural e foram apenas emprestados ao PT.

Segundo o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator da CPI, se o dinheiro repassado estivesse sendo realmente emprestado, deveria haver um registro de um crédito junto ao PT na lista de ativos da empresa e a inclusão das operações de empréstimo com os bancos entre os passivos. Na contabilidade da SMP&B, há apenas o registro entre os passivos da agência de R$3,5 milhões na conta de ¿empréstimos e financiamentos¿.

Segundo o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), Valério fez uma retificação de sua contabilidade na Receita Federal, em junho, já depois do escândalo, para incluir os empréstimos. Para Fruet, a cada dia fica mais claro que esses empréstimos não existiram. A polícia apreendeu ainda 20 computadores que foram usados pela gerente financeira da agência de publicidade, Simone Vasconcelos, e pela sua auxiliar Geiza Dias. O equipamento ainda será periciado.

¿ Por que ele só retificou agora? Ou ele omitiu informações ou cometeu crime de falsidade ideológica. E há uma segunda situação, aceitando-se a retificação como verdadeira: por que ele não tem contrato de empréstimo com o PT? ¿ perguntou Fruet.

Além da falta de registro contábil dos empréstimos, descoberta agora, Valério já havia pago R$1,7 milhão aos políticos indicados pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares um mês antes de fazer a primeira operação com o banco, em 24 de fevereiro de 2003. Ele também sacou o dinheiro de uma conta da SMP&B no Banco Rural para repassar aos políticos. A conta corrente, entretanto, por onde passaram R$260 milhões, não recebeu recursos de maneira casada com os empréstimos. Esta conta foi abastecida na maioria das vezes por dinheiro da própria SMP&B.

Na avaliação dos parlamentares da CPI, estes seriam elementos para reforçar a tese de que os empréstimos feitos pela agência serviram apenas como uma versão para justificar o repasse de recursos.

A comissão, segundo Fruet, trabalha com várias prováveis origens do dinheiro repassado para os políticos. Uma delas seria o próprio caixa da SMP&B, que tinha contratos com o governo que aumentaram na gestão petista na Eletronorte, no Banco do Brasil e nos próprios Correios. Segundo Fruet, a CPI já descobriu também que Valério atuava, como definiu a presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo, como um facilitador dos negócios do banco dela e do BMG no governo.

Além destas duas fontes de recursos, a CPI dos Correios investiga ainda os contratos das agências de Valério com empresas privadas, os investimentos feitos pelos fundos de pensão nos dois bancos e a possibilidade do dinheiro emprestado pelos bancos ao empresário mineiro já ter sido pago no exterior.

O advogado Marcelo Leonardo, que defende Valério, disse que os empréstimos já foram comprovados por documentação encaminhada pelas empresas de Valério e pelo Banco Rural à CPI, à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.