Título: Um vice nacionalista e inimigo dos juros altos
Autor: Luiza Damé
Fonte: O Globo, 05/11/2004, O país, p. 8

O vice-presidente José Alencar foi escolhido para o Ministério da Defesa graças a seu trânsito junto aos militares e também pelo seu perfil de um típico político mineiro, afável e sem ressentimentos, além de ser um nacionalista, condição que o aproxima ainda mais das Forças Armadas.

Empresário do ramo têxtil, Alencar, de 73 anos, já comprou brigas no governo ao atacar as altas taxas de juros que, na sua opinião, prejudicam o setor produtivo. O vice chegou a defender taxas de juros reais de no máximo 3% ao ano e classificou a política fiscal do governo de ultraconservadora e a política monetária de ultra-restritiva.

O vice entrou para a política em 1994, quando disputou e perdeu o governo de Minas. Na época, ele era filiado ao PMDB. Quatro anos depois, o ex-presidente Itamar Franco o convenceu a disputar uma vaga para o Senado. Alencar foi eleito, mas teve uma atuação discreta. A combinação de empresário de sucesso e político mineiro tornou Alencar alvo de cobiça de diversos partidos na escolha do vice para eleição presidencial de 2002. Acabou aceitando o convite do PT e filiou-se ao PL.

Durante a campanha eleitoral, ao lado de Lula, Alencar era apresentado como o ¿patrão de que o Brasil precisa¿. Em quase dois anos de governo, Alencar já assumiu a Presidência interinamente por 39 vezes, quando Lula viajou ao exterior.

Natural de Muriaé (MG), Alencar saiu de casa aos 14 anos para trabalhar e ajudar no sustento da família. De origem humilde, construiu um patrimônio que inclui um conglomerado de 11 fábricas de tecidos em quatro estados, fazendas de criação de gado nelore. O grupo Coteminas é administrado por seu filho mais velho, Josué Christiano.