Título: PF APRESENTA CINCO ASSALTANTES DO ROUBO AO BC
Autor: Isabela Martin
Fonte: O Globo, 30/09/2005, O País, p. 15

Bando tinha de 20 a 23 integrantes, que planejaram a fuga de modo a evitar que um grupo soubesse do outro

FORTALEZA. Os cinco presos anteontem por envolvimento no assalto ao Banco Central de Fortaleza revelaram o nome de outros 18 assaltantes que também teriam participado do roubo de R$164,7 milhões da caixa-forte. A quadrilha tinha entre 20 e 23 pessoas e era dividida em grupos de quatro a cinco integrantes. Eles contaram que a fuga foi planejada separadamente, de forma que um grupo não saberia o destino do outro. Essas foram as informações mais precisas sobre a organização e atuação do bando desde que o crime foi descoberto há 52 dias.

Os presos identificaram como chefe da quadrilha o cearense Antônio Jussivan Alves dos Santos, conhecido como Alemão. Ele é um dos seis denunciados pelo Ministério Público Federal à Justiça, mas está foragido.

Os cinco assaltantes, presos quarta-feira numa casa de classe-média em Fortaleza, são Antônio Edimar Bezerra (cearense), Marcos de França (paulista), Davi Silvan da Silva (mineiro), Flávio Mattiole (mineiro) e Marcos Suppi (paulista). Os três primeiros confessaram ter participado da escavação do túnel de 80 metros até o BC.

Segundo a Polícia, os R$12,3 milhões que estavam escondidos sob o piso do quarto da casa seriam divididos entre esses três. Eles disseram que a maior parte do dinheiro ficou com Alemão. A PF não soube informar quanto.

Os outros dois negaram que tenham participado do roubo. Segundo a Polícia, Mattiole contou que veio de São Paulo trazendo uma camionete, um dos veículos apreendidos na casa onde estavam escondidos. Já Suppi disse que teria vindo pegar metade do dinheiro que caberia a França.

O mineiro Davi da Silva era o especialista em escavação de túneis do grupo. Ele é fugitivo das polícias de São Paulo e de Minas Gerais e confessou ter participado do roubo à Transbank, no ano passado, também feito através de um túnel. Suas fugas das penitenciárias também aconteceram por túneis.

A Polícia Federal fez na madrugada de ontem uma diligência na residência de parentes do cearense Antônio Edimar Bezerra, na cidade de Boa Viagem (CE). Ele reside em São Paulo e era o único que não usava documento falso. Além de R$5.900,00 em notas de R$50, mais uma parte do dinheiro roubado, foram encontradas duas pistolas, uma Taurus ponto 40, que pertence à polícia de São Paulo, e uma Glock 45. Havia ainda uma camionete F-250 e uma moto Honda Falcon.

Empresário preso vendeu carro a assaltante

O carro foi vendido a Edimar pelo empresário José Charles de Morais, dono da J.E Transporte, que está preso e foi denunciado à Justiça por lavagem de dinheiro. Foram recuperados pouco mais de R$18 milhões, cerca de 11% do total roubado.

Antônio Edimar é o proprietário da casa que serviu de esconderijo em Fortaleza e teria sido comprada há seis meses. Ele foi autuado em flagrante por formação de quadrilha e porte ilegal de arma. Os outros quatro vão responder por formação de quadrilha e uso de documento falso.

Não havia dinheiro nos três carros que estavam na garagem ¿ uma Montana, uma Pajero e uma Kombi. A perícia ainda procura sinais de digitais. A PF divulgou ontem o nome de outro suposto membro da quadrilha, José Marleudo de Almeida, natural do Rio Grande do Norte. As digitais dele apareceram em um dos primeiros carros apreendidos logo após o crime.

Os bandidos contaram como a quadrilha se dispersou. Uma parte fugiu de avião, outra por terra e alguns ainda ficaram em Fortaleza. Eles disseram que o plano era praticar o roubo uma semana antes, durante o final de semana em que acontecia o Fortal, a micareta fora de época da capital cearense. Mas tiveram que adiar por uma falha elétrica no sistema de iluminação do túnel, que tinha até tubulação de ar-condicionado. Segundo eles, a retirada das 3,5 toneladas de dinheiro em notas de R$50 começou logo após o encerramento do expediente, às 18 horas de uma sexta-feira, e prosseguiu até por volta das 4 horas da madrugada de sábado.

O paulista Marcos de França e o mineiro Davi Silvan da Silva chegaram a deixar a cidade num vôo nesse mesmo dia. Segundo eles, teriam levado apenas R$5 mil cada um. Voltaram para fazer a partilha dos R$12,3 milhões.