Título: SALTO NOS INVESTIMENTOS EXTERNOS
Autor: Vladimir Goitia e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 30/09/2005, Economia, p. 25

Brasil recebe mais 79% em recursos diretos e sobe para 3ª posição no ranking da Unctad

Oaumento de 79% nos investimentos estrangeiros diretos (IED) ajudou o Brasil a ganhar uma posição no ranking dos países em desenvolvimento que mais atraíram esse tipo de recursos em 2004. Com o salto de US$10,14 bilhões, recebidos em 2003, para US$18,17 bilhões, captados no ano passado, o país passou da quarta para a terceira colocação, atrás apenas de China e Hong Kong. O World Investment Report (WIR 2005), da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês), divulgado ontem em todo o mundo, mostra também que o Brasil avançou cinco lugares no ranking global e foi o décimo entre todos os países do mundo ¿ desenvolvidos, pobres e em desenvolvimento ¿ na atração de investimentos externos.

Para o embaixador Rubens Ricupero, ex-secretário geral da Unctad e hoje diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), esse avanço veio graças ao tamanho do mercado interno brasileiro.

¿ O Brasil ganha mais por seu gigantismo do que pela velocidade ou dinamismo (econômico) ¿ disse Ricupero, convidado para comentar o relatório pela Sobeet, entidade que reúne empresas transnacionais e que colabora com a Unctad no Brasil.

Os bons números de 2004 contrastam com o fraco desempenho de 2003 quando, no primeiro ano do governo Lula, os investidores reduziram em 39% os recursos destinados ao Brasil. Para o analista Alexandre Maia, da GAP Asset Management, a expansão econômica do país ajudou, sim, a atrair investimentos. Ele lembra que, este ano, o volume de recursos que entraram no Brasil entre janeiro e agosto ¿ US$11,7 bilhões ¿ é igual ao do mesmo período de 2004. Com a ressalva de que os investimentos diretos do ano passado foram engordados por única operação, entre a AmBev e a Interbrew, que envolveu US$4,2 bilhões em troca de ações.

O Banco Central (BC), em seu relatório trimestral de inflação divulgado ontem, lembra que esse intenso fluxo de investimentos diretos, aliado ao aumento na compra de ações de empresas brasileiras por estrangeiros (US$4 bilhões até agosto), é um dos motivos para a forte queda do dólar este ano. O BC prevê em US$16 bilhões o fluxo de investimentos diretos para o Brasil em 2005. Já a Sobeet estima que o país poderá atrair mais de US$17 bilhões.

País perde espaço em pesquisa e desenvolvimento

Para Ricupero, o Brasil poderá ganhar em setores como petróleo e gás e também por meio das Parcerias Público-Privadas (PPPs). Ele minimizou os efeitos da crise política e disse que o país tem condições para atrair investimentos:

¿ Não vejo nada que ameace isso a curtíssimo prazo. Tudo que sabemos sobre o Brasil e o mundo leva a crer que teremos bons momentos nos próximos três anos.

Não foi só no Brasil que os investimentos diretos cresceram com força em 2004. No conjunto, os países em desenvolvimento receberam US$268 bilhões, um aumento de 41,4% frente a 2003. Já o IED no mundo aumentou só US$15 bilhões, ou 2,5%, no primeiro crescimento do fluxo global em três anos. A América Latina, por sua vez, interrompeu uma seqüência de quatro anos de queda e recebeu US$68 bilhões, 44% a mais do que no ano anterior.

No relatório deste ano, a Unctad analisou os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de empresas transnacionais. E constatou que as firmas de países ricos estão deslocando parte de suas atividades nessa área para nações em desenvolvimento. O Brasil é um dos principais destinos, mas tem perdido espaço para os países asiáticos, sobretudo a China e a Índia.

No caso das firmas americanas, os países em desenvolvimento responderam por 13,5% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento dessas empresas no exterior em 2002. Fatia bem maior do que os 7,6% de 1994. Mas o Brasil perdeu espaço: de 2% para 1,4% . E a China aumentou sua participação de 0,1% para 3,1%.

O economista Cláudio Frischtak, da Inter.B Consultoria Internacional, lembra que a China tem a seu favor custos baixos e incentivos fiscais do governo para a implantação de centros de pesquisa e desenvolvimento. Já a Índia se tornou um grande pólo de serviços e tem a vantagem de ser um país de língua inglesa. Para Frischtak, o Brasil precisa adotar uma postura mais agressiva para atrair investimentos nessa área. Na sua opinião, a Lei de Inovação, recém-aprovada pelo governo, foi um avanço. Mas é preciso conceder mais incentivos fiscais.

¿ No Brasil, a ciência está na academia e não se transforma em tecnologia. Só 1% de nossos PhDs em física está nas empresas.

(*) Especial para O GLOBO