Título: INVESTIMENTO É RECORDE, MAS CARGA TRIBUTÁRIA SOBE PARA 39,3% DO PIB
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 30/09/2005, Economia, p. 26

Real forte faz Brasil subir uma posição no ranking mundial, para 11º lugar

A parcela da economia brasileira destinada ao investimento atingiu 19,9% no segundo trimestre deste ano, a maior taxa desde 1997, quando alcançou 20,4%, conforme divulgou ontem o IBGE. Mas a boa notícia veio acompanhada da constatação do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) de que a carga de impostos chegou a 39,34% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todas as riquezas produzidas no país) no primeiro semestre, contra 37,83% no mesmo período de 2004.

¿ A arrecadação de impostos cresceu mais que o dobro da economia no semestre: 7,36% contra 3,4% do PIB. Isso fez aumentar a carga que deve chegar a 37,5% no fim do ano ¿ afirmou Gilberto Luiz do Amaral, presidente do IBPT.

Ele citou o aumento da Confins e o congelamento da tabela do Imposto de Renda (IR) como os principais motivos para essa mordida maior do imposto.

Brasil poderá voltar a ser a décima maior economia

De janeiro a junho deste ano, o PIB somou R$918,6 bilhões, o que fez o Brasil avançar uma posição no ranking das grandes economias do mundo. Até abril, pelas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil ocupava o 12º lugar. Este mês, com a valorização do real, subiu para 11 ª posição, ultrapassando Índia e Rússia, mas perdendo posição para a Coréia do Sul.

¿ Isso aconteceu pela forte valorização que, se persistir, poderá fazer o Brasil chegar à 10ª posição este ano ainda ¿ disse Alex Agostini, economista-chefe da gestora de recursos Global Invest.

Segundo Agostini, outros países tiveram crescimento até superior ao do Brasil (3,4%), mas as moedas locais não se valorizam na mesma proporção que o real.

Para aumentar essa taxa de crescimento do país, economistas ainda consideram insuficiente a taxa de investimento divulgada ontem pelo IBGE. E, segundo o diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Levy, a alta de preços dos equipamentos e da construção civil, que formam a taxa de investimento, foi um dos fatores para índice mais alto no trimestre. De abril a junho de 2004, a parcela do PIB tinha ficado em 18,9%:

¿ A taxa mostra que o empresariado está com disposição de investir. Mas há o efeito preço. A inflação da economia no primeiro trimestre foi de 0,9%, enquanto dos bens de capital foi de 7%. No segundo trimestre, repetiu-se a diferença: 9,5% para o setor e 4,4% para a economia.

O Ipea projeta uma taxa de investimento de 20,6% do PIB este ano contra os 19,6% de 2004. Para o ano que vem, o instituto acredita que o indicador suba para 21,2%. Com uma subida gradual, Agostini acredita que o Brasil esteja investindo 25% do PIB nos próximos três anos:

¿ Somente assim, conseguiremos crescer perto de 4% ano a ano sem criar inflação ou gargalos de infra-estrutura ¿ diz Agostini.

Outra taxa que alcançou patamares históricos foi a de poupança. Mesmo tendo caído de 25% do PIB em 2004 para 24% no segundo trimestre deste ano, a taxa é a segunda maior desde 1995. No primeiro semestre, ficou em 23,21%:

¿ Em termos nominais (considerando o efeito da inflação), o consumo doméstico cresceu 12%, o PIB, 10% e a poupança, 6%. Isso explica essa queda na taxa ¿ disse Claudia Dionísio, economista da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE.

Mas essa distância entre a taxa de poupança e de investimento indica que o país mandou dinheiro para o exterior. O que não é bom, na opinião do economista Levy. O ideal seria o país absorver esses recursos na forma de mais investimento na economia:

¿ Temos agora um certo conforto para aumentar o investimento. E podemos conviver sem sobressaltos com um pequeno déficit em transações correntes (o que entre e sai de dólares do país) para fazer a economia crescer mais ¿ disse Levy.

Capacidade de financiamento caiu

Com essa taxa de poupança, o país teve capacidade de financiamento no primeiro semestre este ano de R$13,1 bilhões. O valor é inferior ao do mesmo período do ano passado, quando alcançou R$14,8 bilhões. Segundo Cláudia, do IBGE, o aumento de 45% na remessa de lucros e dividendos para o exterior explica essa queda. No segundo trimestre, quando a capacidade também foi menor que em 2004, o crescimento das importações causaram a redução. Segundo o IBGE, as reservas internacionais cresceram R$25,7 bilhões de janeiro a junho.