Título: Do Haiti aos caças, problemas no caminho
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 05/11/2004, O país, p. 9

A polêmica em torno da abertura dos arquivos militares, que foi a gota d¿água para a saída do embaixador José Viegas, é apenas um dos problemas que o futuro ministro da Defesa vai enfrentar nos próximos meses. A lista de tarefas do novo ministro, o vice José Alencar, é extensa: da licitação para a compra de novos caças para a Aeronáutica à presença das tropas brasileiras no Haiti, passando por problemas crônicos como a falta de recursos para as Forças Armadas e a pressão por reajustes dos militares.

Além dos problemas na caserna, o novo ministro vai ter de lidar com a situação crítica do setor de aviação civil, uma atribuição da pasta. Para o presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, Carlos Melles (PFL-MG), o principal problema será enfrentar o debate em relação à abertura dos arquivos, que tem defensores no governo.

¿ O principal problema é esse. Isso não devia ser feito. Não levou nenhum país a nada. A questão do Haiti é um grande desafio ¿ diz o deputado.

No Congresso, há resistência à missão de paz no Haiti

O primeiro problema do novo ministro já tem data marcada: ainda este mês o governo precisa aprovar no Congresso ¿ ou editar uma medida provisória ¿ a permanência das tropas brasileiras no Haiti. O prazo para aprovação da mensagem termina no começo do mês. Tanto entre parlamentares quanto no meio militar há resistência à continuação da missão. A Comissão de Defesa até já aprovou uma convocação para o ministro explicar a missão.

¿ Acho que esse envio de tropas nem deveria ter sido aprovado. É como se estivéssemos comendo mortadela e arrotando caviar. Não temos condições financeiras para isso ¿ afirma a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP).

Antes do fim do ano também devem recomeçar as pressões dos militares por reajuste salarial e por recursos no Orçamento de 2005. Segundo o deputado Jair Bolsonaro (PTB-RJ), militar reformado que atua como porta-voz da caserna, a reivindicação inicial das Forças Armadas era de 33% de aumento. O governo deu um reajuste linear de 10% para os militares.

¿ Os outros 23% vão ser uma reivindicação já para janeiro de 2005. A nomeação do vice-presidente é um sinal de prestígio para as Forças Armadas, mas, se não houver sinal de reajuste, vai começar o desgaste ¿ disse o parlamentar.

Já a crise do setor da aviação civil é um problema que o novo ministro dividirá com a Casa Civil e o Ministério da Fazenda. O governo terá que encontrar uma solução para a Varig, que, atolada numa dívida de R$ 7 bilhões, está sendo pressionada pelos credores.