Título: ABRIR CAPITAL DE ESTATAIS AUMENTARIA EFICIÊNCIA
Autor: Mariza Louven e Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 30/09/2005, Economia, p. 29

Para Araújo, da FGV, proposta é viável. Mendonça de Barros quer privatização da Petrobras. Professor da UFRJ critica

RIO e SÃO PAULO. As privatizações polarizam opiniões entre os que defendem e os que criticam a atuação do Estado no setor produtivo. Enquanto o economista e ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros não vê alternativa senão realizar uma nova rodada de desestatização num próximo governo, incluindo a Petrobras, o professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, acredita que o investimento público é a chave para o país acelerar o seu desenvolvimento. Mas Aloísio Araújo, da Fundação Getulio Vargas (FGV), propõe uma terceira via: abrir o capital das empresas públicas e compartilhar sua direção com o setor privado.

¿ Em vez de ficar no discurso do tudo ou nada, mais ideológico, proponho uma saída mais viável politicamente, que é melhorar a gestão por meio do mercado de capitais ¿ afirma Araújo.

Gonçalves, da UFRJ: Petrobras é muito eficiente

O professor da FGV argumenta que as companhias abertas são obrigadas a seguir princípios que as tornam mais transparentes. Mas acha que é insuficiente o choque de gestão elaborado pelo governo para aumentar a eficiência das estatais ¿ medida antecipada pelo GLOBO ontem, na série de reportagens sobre estatais iniciada no último domingo. Para ele, isso pode ser desfeito num governo que se oponha ao atual. A seu ver, a saída pelo mercado de capitais é mais duradoura.

¿ Mesmo mantendo a propriedade estatal, pode haver grandes ganhos de eficiência, principalmente se houver uma supervisão parcial de terceiros, representantes dos acionistas na diretoria e no conselho de administração das estatais ¿ reforça Araújo.

Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso, defende que o país invista em uma nova rodada de desestatização a partir de 2007. Além de setores da infra-estrutura, em que a capacidade de investimentos do Estado é comprovadamente insuficiente, ele acredita ser o momento de incluir a Petrobras na lista das privatizáveis. Ex-presidente do BNDES, ele diz que a Vale e a Embraer são exemplos de que há um tempo para o Estado sair das empresas para que elas ganhem eficiência.

Já o engenheiro Fernando Xavier Ferreira, presidente do grupo Telefônica no Brasil, que passou cerca de 20 anos a serviço de estatais, considera essencial avançar nas privatizações. Lembra que em 1995 havia 70 mil celulares no país, contra 80 milhões atualmente. Nesse período as operadoras mudaram três vezes o padrão tecnológico dos serviços de telefonia móvel e o número de linhas fixas aumentou de 16 milhões para 40 milhões.

¿ O sistema Telebrás transferiu valor à sociedade, produziu salto de qualidade em tecnologia e integrou o país. Mas já estava estagnado, distanciando-se da realidade internacional ¿ diz Xavier, que a convite do então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, presidiu a Telebrás de 1995 até a sua privatização.

Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, concorda que há estatais contaminadas por interesses particulares ou privados. Mas argumenta que isso também acontece nas empresas privadas, incluindo as transnacionais, em que executivos e acionistas unem-se para práticas que terminam com a falência das empresas. O economista cita a Parmalat e a Enron, entre outras.

Para o professor da UFRJ, a Petrobras é muito eficiente ¿ ¿mais até que concorrentes como a Shell¿ ¿ e o Estado é fundamental, inclusive como locomotiva dos investimentos:

¿ A sociedade bárbara não tem Estado, mas quando o desenvolvimento aumenta, o Estado cresce ¿ diz ele.