Título: Especialista: saída de Viegas diminui poder diplomático
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 05/11/2004, O país, p. 9

Autor do livro ¿Democracia e defesa nacional¿, que analisa os reflexos da criação do Ministério da Defesa no governo Fernando Henrique Cardoso, em 1995, o professor Eliézer Rizzo de Oliveira disse ontem que a saída do ministro José Viegas deve diminuir o desconforto de um ¿poder diplomático exagerado¿ instituído no ministério desde a sua nomeação. Embora tenha avaliado como altamente positiva a passagem do ministro demissionário pelo governo, ele fez a seguinte ressalva:

¿ A presença de Viegas era desconfortável para as Forças Armadas. Como Viegas era embaixador e tinha auxiliares embaixadores, a área diplomática exercia um poder exagerado ¿ disse o especialista, lembrando que as Forças Armadas brasileiras combateram tradicionalmente a hipótese do Ministério da Defesa.

Alencar pode ter problemas

Ainda segundo o autor, a entrada do vice-presidente José Alencar no ministério poderá criar uma situação delicada para o país.

¿ Ao assumir, Alencar terá de ser vice, presidente na ausência de Lula e ainda ministro da Defesa. Isso pode criar uma debilidade política ¿ observou.

Para o autor, Viegas tem papel fundamental na discussão sobre a previdência dos militares.

¿ Ele (Viegas) garantiu a previdência do militares num momento em que houve a ameaça de mudanças na reforma da Previdência ¿ disse o autor.

No livro, Rizzo diz que a resistência das Forças Armadas ao ministério se explica pelo medo de perder poder.

¿ Em nome da racionalidade e da eficiência, Fernando Henrique Cardoso superou resistências militares e do Legislativo para criar o ministério.

Pouca importância às Forças Armadas

Segundo o autor, não basta o Ministério da Defesa, ¿assim como nunca bastou a Constituição¿, afirmar o comando supremo do presidente da República:

¿ As Forças Armadas somente serão dirigidas se o poder político protagonizar esta direção com objetivos, métodos e recursos financeiros, materiais e humanos.

Segundo ele, a sociedade civil, a imprensa, os partidos políticos, as igrejas e o Congresso atribuem pouca importância às Forças Armadas e à Defesa Nacional.

¿ Não é raro achar-se o aparelho militar à espera das orientações que deveriam inscrever-se na direção política ¿ disse.