Título: Militares e políticos governistas elogiam escolha
Autor: Adriana Vasconcelos e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 05/11/2004, O país, p. 10

A saída do diplomata José Viegas do Ministério da Defesa foi motivo de comemoração na área militar, que também recebeu bem a nomeação para o cargo do vice-presidente José Alencar. Filho de general, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), confirmou ontem que passou o dia recebendo telefonemas de oficiais do Exército elogiando a escolha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

¿ A indicação de Alencar foi uma boa solução, que dá prestígio às Forças Armadas. O vice tem o perfil adequado para o cargo e deve ajudar muito neste momento ¿ disse Mercadante.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), também manifestou apoio à indicação:

¿ Alencar é um homem altamente qualificado para o cargo. Precisamos no Ministério da Defesa de alguém que represente o governo da maneira mais alta.

Para Sarney, não haverá instabilidade na área militar

Na opinião de Sarney, não há possibilidade de instabilidade na área militar por causa da atitude de Viegas, que vinculou sua saída do governo ao viés autoritário da nota divulgada pelo Exército em 17 de outubro. Na ocasião, foram divulgadas fotos de um homem no cárcere, identificado inicialmente como o jornalista Vladimir Herzog, morto nas dependências do DOI-Codi durante o regime militar.

O gesto de Viegas foi interpretado no governo como uma tentativa do ex-ministro de provocar a queda do comandante do Exército, general Francisco Albuquerque. Essa hipótese foi negada categoricamente por interlocutores de Lula.

¿ Hoje os militares estão dedicados à sua profissionalização, não têm tido qualquer influência política ou interferência em qualquer dos assuntos públicos nossos. Hoje nós somos uma democracia sem militarismo ¿ disse Sarney.

A oposição, por sua vez, não perdeu a oportunidade de criticar o governo. O líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA), condenou a indicação de Alencar. Ele disse acreditar que a opção de Lula tenha sido um meio-termo para evitar a extinção do Ministério da Defesa:

¿ O ministro Viegas foi vítima de um processo de fricção entre o governo e as Forças Armadas. O governo põe temas que não interessam à sociedade e apenas humilham os militares. O vice-presidente é substituto de Lula e sua ida para um ministério tão sensível expõe muito o segundo homem do país.

O vice-presidente do PFL, senador José Jorge (PE), disse ter opinião semelhante.

¿ Vice é vice e tem um papel institucional diferente do ministro da Defesa. Achei a nomeação de Alencar negativa, até porque o presidente fica sem poder para demiti-lo ¿ disse Jorge.

Demissão de Viegas não causou surpresa no governo

O fato é que a demissão de Viegas não causou surpresa alguma no governo. De acordo com interlocutores do presidente, sua saída foi acertada bem antes da divulgação da polêmica nota do Exército, sobre a qual não foi consultado e que provocou protestos dentro e fora do governo na medida que tentou justificar a tortura praticada contra os opositores do regime militar.