Título: INQUÉRITOS AOS MILHARES NA PF
Autor: Alan Gripp e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 01/10/2005, O País, p. 3

Investigação atingirá 3.500 envolvidos com superconta nos EUA

BRASÍLIA. Um ano depois de prender 70 doleiros na Operação Farol da Colina, a Polícia Federal vai abrir, nos próximos dias, inquéritos contra 3.500 empresários, políticos, servidores públicos, artistas e jogadores de futebol, entre outros acusados de fazer remessas ilegais de dinheiro para o exterior. Um levantamento preliminar da PF e da Receita Federal indica que os acusados enviaram US$975 milhões aos Estados Unidos entre 1999 e 2002 sem o devido registro no Banco Central para fugir do pagamento de impostos.

Os acusados serão chamados para depor ao longo de outubro. Serão investigados por sonegação fiscal, crime contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro, entre outros. Boa parte dos suspeitos está sendo chamada para dar explicações à Receita e pagar multas e impostos. As ordens para abertura de inquérito partiram da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros da PF, em Brasília, instância encarregada da investigação iniciada com a Farol da Colina.

A divisão pediu a abertura de 2.200 inquéritos em São Paulo, 720 no Rio de Janeiro e 300 em Minas Gerais. Pelas informações da polícia, os acusados fizeram remessas de R$30 mil a mais de R$20 milhões do Brasil para 40 subcontas da Beacon Hill, uma superconta aberta pelo guatemalteco Anibal Contreras no JP Morgan de Nova York. As subcontas eram administradas por cem doleiros brasileiros.

A maior lavanderia de dinheiro do mundo

A Beacon Hill foi desativada em 2002, depois de investigação da Promotoria Pública de Nova York contra o crime organizado nos EUA. A Beacon Hill, também investigada pela CPI do Banestado, foi apontada por autoridades brasileiras e americanas como a maior lavanderia de dinheiro do mundo. A PF suspeita que empresários, artistas, jogadores e servidores públicos, entre outros, recorreram ao dólar-cabo, operado por doleiros brasileiros, para mandar dinheiro ao exterior sem declarar a origem dos recursos nem pagar impostos.

Pelo sistema, o interessado em remeter dinheiro ao exterior repassa os recursos para um doleiro no Brasil, que, no mesmo dia, faz um depósito correspondente na conta indicada no exterior. Em geral, as contas nos Estados Unidos eram abastecidas por dólares que brasileiros queriam mandar para cá sem passar pelos canais oficiais. Pelas informações da polícia, o esquema dos doleiros, espécie de sistema financeiro clandestino, movimentou mais de US$20 bilhões entre 1997 e 2002.

Na Operação Farol da Colina, deflagrada no dia 17 de agosto do ano passado, a PF prendeu 70 dos 123 maiores doleiros do país, supostamente envolvidos com as remessas ilegais. A partir daí, a PF e a Receita Federal começaram a identificar as 8.500 pessoas e empresas clientes desses doleiros. Para facilitar o trabalho, a PF concentrou as investigações só nos autores de remessas acima de US$30 mil. A Receita está atuando sobre aqueles que enviaram dinheiro a partir de 1999. Os crimes fiscais anteriores a esta data estão prescritos.