Título: Contra manobras, mais prazo
Autor: Alan Gripp e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 01/10/2005, O País, p. 3

Presidente da CPI dos Correios diz que investigação será prorrogada `pelo tempo que for necessário¿

Em resposta à tentativa de seus colegas de partido de emperrar as investigações na CPI dos Correios, seu presidente, senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirmou ontem que os trabalhos da comissão poderão ser prorrogados ¿pelo tempo que for necessário¿. No dia em que decidiu ficar no PT, depois de um apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Delcídio afirmou no plenário do Senado que a CPI só será concluída quando ficarem prontos os relatórios das quatro principais frentes de investigação: a corrupção nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), o valerioduto e a atuação dos fundos de pensão. O prazo inicial é 15 de dezembro, quando a comissão completa seis meses de trabalho.

¿ Não há condição de transformar a CPI dos Correios em pizza ¿ avisou Delcídio. ¿ Se a CPI não andar direito, o desgaste será de todo o Congresso Nacional.

Fase investigativa e com mais novidades

A Polícia Federal também quer mais tempo para investigar. A PF vai enviar os autos do inquérito do mensalão ao Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira. O delegado Luís Flávio Zampronha pedirá mais 30 dias.

Deverá ser pedida também a quebra do sigilo bancário e fiscal de Bônus-Banval, Guaranhuns Empreendimentos e Natimar, três empresas que receberam recursos de Marcos Valério, operador do caixa dois do PT. É a segunda vez que a PF pede a prorrogação do prazo de investigação que, de acordo com um dos investigadores, está longe de fim.

No caso da CPI, Delcídio disse que a prorrogação tem o apoio do presidente Lula, com quem ele se reuniu na noite de anteontem no Palácio do Planalto, ao lado do líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP).

¿ A CPI tem de dar resultados mesmo ¿ afirmou o presidente, segundo Delcídio.

Para o senador, a crise política arrefeceu, especialmente com a vitória de Aldo Rebelo para presidente da Câmara. Mas diz que a ação das CPIs será intensa nos próximos meses:

¿ As CPIs entrarão numa fase mais investigativa. E com as informações que detêm, claro que produzirão novidades.

Delcídio criticou abertamente seus colegas de partido que, anteontem, se retiraram do plenário da CPI, impedindo a votação da quebra do sigilo bancário de dez corretoras que teriam causado prejuízo aos fundos de pensão em operações de compra e venda de títulos públicos. A manobra derrubou o quórum e cancelou a sessão:

¿ Espero que isso não se repita.

A quebra de sigilo das corretoras voltará a ser discutida na próxima terça-feira. No dia seguinte, presta depoimento à CPI o doleiro Dario Messer, peça fundamental para esclarecer a movimentação financeira do PT no exterior. Segundo o também doleiro Toninho da Barcelona, Messer era o ¿doleiro do PT¿ e teria negociado cerca R$7 milhões com o partido em 2003.

Delcídio disse ainda que, além dos relatórios para cada caso, a CPI já decidiu que vai apresentar três propostas importantes ao seu fim: um projeto de lei de reforma política que vem sendo elaborado com o auxílio do jurista Miguel Reale Júnior, um novo modelo de gestão para o IRB, que pode sugerir sua privatização, e sugestões para a melhoria do controle do sistema financeiro.

O presidente da CPI afirmou que em duas semanas a comissão terá o auxílio de uma ou duas empresas de auditoria de grande porte, que vão analisar contratos e documentos reunidos até agora. Ontem, Delcídio se reuniu no Congresso com representantes de três empresas. Na próxima semana, elas vão entregar à CPI um orçamento. Outras três também foram procuradas. A decisão sairá até o fim da semana que vem.

Tucano vai relatar as auditorias

Delcídio nomeou o senador tucano Álvaro Dias relator das auditorias. Ele acompanhará o trabalho das empresas e fará relatórios.

O discurso de Delcídio também teve como alvo o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), que deixou o comando da sub-relatoria de fundos de pensão irritado com a demora na contratação das empresas de auditoria. Delcídio chamou a decisão de frescura e disse que, se ele não voltar atrás, escolherá seu substituto.

O presidente Lula pediu a Delcídio que ficasse no partido porque precisará de candidatos fortes para concorrer pelo PT nos estados em 2006. Delcídio estava propenso a se filiar ao PSDB depois que o governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, fechou um acordo com o candidato do PMDB ao governo, o que limitaria suas chances de disputar. Lula se comprometeu a procurar Zeca para sanar as desavenças locais:

¿ O presidente me disse que agora devo me ocupar de temas nacionais e esquecer as encrencas regionais.

COLABOROU: Lydia Medeiros