Título: PL e PT foram os que mais perderam deputados
Autor: Isabel Braga e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 01/10/2005, O País, p. 8

É uma ironia o fato de estarmos vivendo o período de maior infidelidade partidária justamente no governo petista¿

BRASÍLIA e GOIÂNIA. Os partidos governistas que mais perderam com a crise política foram o PL e o PT. Em 30 de junho, o PL tinha uma bancada de 52 deputados e ontem estava com 38. O PT, que tinha 91, está com 83. O PMDB, que tinha 85 deputados em 30 de junho e chegou a 89, ameaçando a maioria do PT, estava ontem com uma bancada de 80 deputados. A redução da bancada peemedebista ocorreu por causa dos movimentos de aliados do casal Garotinho rumo a outros partidos.

Esse, pelo menos, era o placar de ontem do troca-troca partidário nos últimos dias. Só este mês, pelo menos 40 deputados mudaram de partido. O número pode aumentar hoje, quando acaba o prazo para troca de legenda para quem deseja disputar mandato no ano que vem. Mais de 300 mudanças de partido ¿ não necessariamente 300 deputados ¿ ocorreram desde o início da legislatura, em fevereiro de 2003.

¿ É uma ironia o fato de estarmos vivendo o período de maior infidelidade partidária justamente no governo do PT, partido até então de maior fidelidade. O sistema partidário chegou ao máximo de seu fracasso ¿ analisou o deputado Paulo Delgado (PT-MG).

A principal baixa do PT foi dos cinco deputados que deixaram a legenda em direção do PSOL, da senadora Heloísa Helena (AL), que passou de dois para sete deputados.

No PL, Sandro Mabel (GO) atribui a redução drástica da bancada a problemas regionais e não à crise. Segundo ele, cinco deputados mineiros deixaram o partido depois da saída do vice-presidente José Alencar.

¿ Essa saída estava prevista. Os deputados saíram porque estavam com problemas de legenda. Nós vamos crescer ao longo do ano ¿ disse Mabel.

Os líderes peemedebistas evitaram confirmar, mas são dadas como certas a saída de oito deputados de diferentes estaddos. Já o PP ficou praticamente estável, com 54 deputados.

O PTB, partido do ex-deputado Roberto Jefferson, perdeu nos últimos dias seis deputados: Airton Roveda (PR), Francisco Gonçalves (MG), Iberê Ferreira (RN), Joaquim Francisco (PE), Marcondes Gadelha (PB) e Antonio Joaquim. Mas ganhou quatro ¿ Osmânio Pereira (MG), Jefferson Campos (SP) e Ênio Tatico (MG) e José Tatico (GO). Para o líder José Múcio Monteiro, levando em conta os problemas enfrentadas pelo partido, o saldo é bom.

¿ Conseguimos nos manter. Numa crise dessas, dois a menos é até positivo.

O único partido da base governista com crescimento significativo foi o PSB, que elegeu 22 deputados, mas chegou a ter só 16 parlamentares. Ontem, os socialistas somavam 29.

¿ É sinal da coerência do partido em relação à crise no governo. O partido não se envolveu com as denúncias que atingiram os demais partidos da base ¿ avaliou o líder do PSB, Renato Casagrande.

PSDB, PFL e PDT tiveram aumento na bancada

Na oposição, o PSDB, que em junho tinha 50 deputados, está com 53. O PSDB ganhou um senador, Juvêncio da Fonseca (PDT), totalizando 15. Ontem o presidente do partido, senador Eduardo Azeredo (MG), e o secretário-geral, deputado Bismarck Maia (CE) estiveram em Palmas (TO) para filiar o ex-governador do estado, Siqueira Campos, que deixou o PFL.

O PFL teve pequeno crescimento, pulando de 59 para 63 deputados. Já o PDT comemora recuperação, pois a bancada, que tinha 14 deputados, ontem chegava a 19.

O recém-criado Partido Municipalista Renovador (PMR), ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, aguardava a filiação de cinco deputados federais. A cúpula do PMR, que desde anteontem abriga o vice-presidente José Alencar, pensou em fazer filiação dos 16 deputados federais ligados à Universal. Mas concluiu que seria melhor deixar parlamentares em outros partidos para que possam ser eleitos no próximo ano com mais tranqüilidade.

Em Goiânia, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anunciou que não se filiaria a qualquer partido. Meirelles informou que, atendendo a uma solicitação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estava fora do páreo:

¿ A economia brasileira vive um momento importante, o que me levou a concluir que há momentos em que as questões do país são mais relevantes que projetos pessoais ¿ disse Meirelles.