Título: CÚPULA SUL-AMERICANA QUASE ACABA EM IMPASSE
Autor: Eliane Oliveira, Cristiane Jungblut e Enio Vieira
Fonte: O Globo, 01/10/2005, Economia, p. 33

Um dia após elogios de Lula, Chávez não queria assinar declaração presidencial. No fim, venezuelano acabou cedendo

BRASÍLIA. Como se não bastasse a ausência do argentino Néstor Kirchner e do uruguaio Tabaré Vázquez na cúpula da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa) ¿ sinalizando que falta coordenação política no Mercosul ¿ por pouco o encontro de chefes de Estado não terminou em um fracasso total. Um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tê-lo elogiado, o venezuelano Hugo Chávez ameaçou não aprovar a declaração presidencial da reunião, cujo principal ponto é a decisão política de criar uma área de livre comércio na região.

¿ A prevalecer a posição de Chávez, sairemos daqui sem documento. Repito, sairemos daqui sem documento, paralisados como chegamos ¿ respondeu Lula, irritado.

Chávez não se conformou com o fato de a declaração não conter uma proposta sua e do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez. Eles sugeriram a criação de uma comissão de alto nível, encarregada de elaborar um plano estratégico, até 2010, com metas econômicas e sociais. Diante do apelo do presidente brasileiro, ajudado pelo peruano Alejandro Toledo, Chávez cedeu:

¿ Estamos começando muito mal, repetindo esquemas fracassados!

Banco do Brasil faz acordo de crédito com a CAF

Lula, que pela manhã fez um discurso cobrando mais empenho dos países sul-americanos, prometeu que, em 90 dias, a proposta de Venezuela e Uruguai seria amplamente discutida e analisada, para depois ser incluída na declaração, o que deve acontecer em dezembro, durante a cúpula do Mercosul. Lula encerrou o encontro pedindo paciência:

¿ Como sou mais otimista do que a maioria dos seres humanos, viva a Casa! ¿ brincou Lula, arrancando aplausos de seus colegas e saindo em seguida para um encontro com Chávez, para aparar as arestas.

Apesar dos tropeços, a cúpula teve como ponto principal a decisão política de se criar uma área de livre comércio na América do Sul. Em seu discurso de abertura, Lula cobrou que os países da região abram seu caixa, como faz o Brasil, para os investimentos necessários à integração física da América do Sul.

Segundo ele, o BNDES e o Proex já investem US$4,3 bilhões em 43 projetos de infra-estrutura na região. Além disso aumentou sua participação na Corporação Andina de Fomento (CAF) ¿ o BNDES dos países andinos ¿ que, para Lula, é decisiva para a criação do Banco Sul-Americano de Desenvolvimento. Ontem, o Banco do Brasil e a CAF assinaram um acordo para a utilização de recursos do Proex, do governo brasileiro.

Segundo o diretor de Comércio Exterior do BB, Rogério Lot, o acordo permitirá que exportadores do Brasil sejam financiados pela CAF em projetos nos países vizinhos com juros menores. O BNDES também assinará convênios com a CAF. O presidente do BNDES, Guido Mantega, adiantou que o acordo do banco com o organismo permitirá a ampliação dos recursos para financiar projetos de infra-estrutura, inclusive os de Parcerias Público-Privadas (PPPs).

No caso do BB, o primeiro projeto a ser beneficiado será uma rodovia de US$150 milhões na Bolívia com recursos da CAF. O segundo, uma hidrelétrica de US$10 milhões no Equador.