Título: Nas mãos do presidente do STJD
Autor: Fábio Juppa
Fonte: O Globo, 01/10/2005, Esportes, p. 44

Armando Marques cai e CBF abre caminho para mudanças na arbitragem

Armando Marques não teve forças para enfrentar a realidade. Desgastado e profundamente deprimido pelo escândalo de manipulação de resultados do Campeonato Brasileiro, pediu demissão do cargo de presidente da Comissão Nacional de Arbitragem. Édson Rezende, que já o havia substituido num período de licença, assumiu a função interinamente por uma semana, prazo estipulado pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para a escolha de um nome definitivo, que trabalhará amparado por um colegiado.

Formado em direito e administração, Édson Rezende foi delegado da Polícia Federal por 30 anos e está aposentado. Fez cursos de instrução de árbitros na Fifa e também é presidente da comissão de arbitragem da federação de Brasília. Ao assumir, decretou a era da transparência após a longa e obscura gestão anterior:

¿ Nada deve ser feito às escondidas. Haverá transparência. É carta na mesa, jogo limpo, tanto para os árbitros quanto para dirigentes e a imprensa.

Em seu último ato no cargo que ocupou por oito anos, Armando Marques desconstruiu a imagem que criara. Depois de fazer a escala de juízes para a rodada deste fim de semana do Brasileiro, foi embora do prédio da CBF abatido. Em vez da arrogância costumeira, acenou cabisbaixo para os jornalistas e entrou num táxi. Ali, deixava para trás um salário de R$25 mil e punha fim a uma era de poder centralizado, durante a qual indicou Edílson Pereira de Carvalho para intregrar o quadro de árbitros da Fifa.

A saída de Armando abre caminho para a reestruturação da arbitragem brasileira. Édson Rezende, escolhido por Ricardo Teixeira por já conhecer o funcionamento do departamento, ajudará o presidente da CBF a escolher os membros de um colegiado que promoverá ¿mudanças no que for preciso¿, como salientou o dirigente.

¿ O Édson vai nos ajudar a montar uma estrutura mais abrangente, capaz de descobrir se há influências de outros segmentos no futebol ¿ explicou Teixeira, eximindo a CBF de culpa pelos recentes episódios. ¿ A entidade não pode ser culpada pelos juízes determinados por sorteio. Como você se defende de um bandido que o assalta? Como a CBF poderia se defender de um juiz que rouba a 400 quilômetros de onde estamos? ¿ indagou.

Ricardo Teixeira evitou especular sobre nomes do futuro presidente da Comissão Nacional de Arbitragem. Apenas antecipou que o escolhido deve ter como principais atributos o bom senso e a capacidade de trabalhar em grupo, evidenciando sua insatisfação com a forma como Armando Marques procedia no cargo. Sobre novos critérios, deu a entender que a comissão terá uma postura mais dura, inclusive na escolha dos juízes.

¿ Há pouco tempo, os árbitros participaram de um simpósio em que ficou claro que deveriam tomar atitudes enérgicas. A partir de agora, acho que quem não tomar deve ser afastado ¿ alertou o presidente da CBF. ¿ E devem haver alguns parâmetros em relação aos juízes: fica complicado escalar aqueles que têm o jogo como vício. Esses terão restrições.

Tabela com os 11 jogos está pronta

O presidente da CBF confirmou que o Brasileiro não será prorrogado e espera uma decisão do presidente do STJD, Luiz Zveiter. O departamento técnico da entidade já fez a nova tabela, com as 11 partidas, e aguarda apenas a decisão do STJD para divulgá-la. A data de término da competição está mantida para 4 de dezembro.

Ricardo Teixeira confirmou que, depois de uma reação inicial, conta com a colaboração dos clubes, mesmo porque, aqueles que se aventurarem a entrar com ações na justiça comum, receberão punições exemplares da CBF:

¿ Quem fizer isso receberá uma punição inesquecível. Qual? Uma punição inesquecível ¿ enfatizou.

O campeonato do ano que vem terá 20 clubes. Apesar de toda a confusão gerada pelo escândalo da manipulação de resultados, quatro equipes serão rebaixadas este ano e os dois primeiros colocados da Série B subirão.

¿ Tenho a convicção absoluta de que tudo o que foi estabelecido será cumprido. O campeonato está fortalecido. Quem for rebaixado vai descer, e quem tiver de subir vai subir ¿ concluiu Teixeira.