Título: `Capitalismo sem capitalista¿
Autor: Leticia Lins
Fonte: O Globo, 02/10/2005, Economia, p. 33

RECIFE. Cientista-chefe do Centro de Estudos Sistemas Avançados do Recife (Cesar), Sílvio Meira passa as horas livres entre tambores e alfaias do maracatu Cabra Alada. Ele diz que o Cesar pratica o ¿capitalismo sem capitalista¿. E critica a burocracia, dizendo que o Brasil atrapalha o Brasil.

O setor de informática no estado cresce 10% ao ano. Como tem se comportado o Cesar, a principal âncora do Porto Digital?

MEIRA: Agregando o Cesar e a Pitang (firma criada com capital próprio), devemos faturar R$43 milhões em 2005, mas o ano não acabou ainda. Este ano crescemos mais de 40% em relação a 2004.

O Cesar é uma empresa, um instituto de pesquisa, uma ONG? É o que do ponto de vista jurídico?

MEIRA: O Cesar é um instituto de inovação, constituído como uma sociedade civil sem fins lucrativos. A gente não tem nem dono nem acionistas. Se ganharmos dinheiro, ele volta para o funil de novos negócios. Eu sempre respondo que o que estamos fazendo é recriar o capitalismo sem capitalistas.

É verdade que você foi levado a idealizar o Cesar quando viu uma turma inteira de seus alunos de graduação ser convocada por uma corporação bancária?

MEIRA: A gente investiu muito tempo para criar um centro de informática, desde 1974. Mas em 1996, 75% da turma de graduação foram embora. Hoje cerca de 40% das pessoas que o Cesar contrata são de fora. Ou seja, o Recife hoje atrai capital humano.

O País tem condições de abocanhar 1% dos US$600 bilhões movimentados pelo mercado mundial de software?

MEIRA: Para chegar lá, precisaríamos colocar mais cem mil pessoas trabalhando no mercado e seria preciso uma articulação grande do poder público e da iniciativa privada.

O executivo da Intel Craig Barrett disse que a burocracia brasileira é um círculo de horrores. Como é conciliar esse abismo burocrático com empresas de alta tecnologia?

MEIRA: Se estamos em último lugar na eficiência do investimento público, temos as instâncias do governo efetivamente atrapalhando a iniciativa privada. Porque você captura imposto da sociedade como se fosse a Suécia e investe como se fosse o Senegal. Literalmente, o Brasil atrapalha.