Título: INDÚSTRIA DA VAIDADE GANHA COM DÓLAR BAIXO
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 02/10/2005, Economia, p. 36

Câmbio pode levar o país a ser o quinto maior mercado de beleza do mundo. Setor deve faturar R$15,3 bi

A indústria da vaidade brasileira está se beneficiando com a baixa cotação do dólar ¿ que, desde o início do ano, acumula queda de 16,01%. É fato: o câmbio tem ajudado a reduzir os custos da produção de cosméticos e artigos de higiene pessoal e a manter estáveis seus preços há mais de um ano, contribuindo para o aumento do consumo. Com isso, espera-se que o setor fature R$15,3 bilhões, 16% acima dos R$13,2 bilhões do ano passado. Um montante que pode levar o país a subir da sexta para a quinta posição no ranking dos maiores mercados mundiais de beleza. É o que prevê a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec).

¿ As últimas deflações dão ao trabalhador um ganho real de renda. Assim, ele gasta mais com produtos que nem sempre estão na lista de suas prioridades ¿ disse João Carlos Basilio, presidente da Abihpec.

Na leva do consumo, estão os bronzeadores e protetores de sol, com crescimento de 22% no primeiro semestre deste ano, cita Basílio. E ainda enxagüadores bucais (64%), produtos para tratamento de cabelo (31%) e desodorantes (23%).

Números como esses inspiram os investimentos das empresas do setor. Como a Avon, que aposta R$11,5 milhões no perfume Extraordinary, que chegou ao Brasil ao mesmo tempo que surge em Estados Unidos, França, Alemanha, Grécia, México, Itália e Reino Unido. A Natura, por sua vez, lançou no primeiro semestre 81 itens ¿ 21 a mais do que nos primeiros seis meses de 2004. Encerrou o primeiro semestre com faturamento de R$1,404 bilhão, contra R$1,093 do mesmo período de 2004. E aumentou, apenas nos primeiros seis meses do ano, sua receita líquida em 52% com exportações para Argentina, Chile e Peru.

¿ Um termômetro do consumo é nossa consultora. Em relação ao primeiro semestre de 2004, aumentamos em 20% o número de consultoras. São 454 mil, contra 378 mil ¿ disse Pedro Villares, diretor de Vendas Brasil da Natura.

E as boas perspectivas do setor atraem novas marcas para o país. A famosa Victoria¿s Secret Beauty, por exemplo, começou a vender ontem no Brasif alguns perfumes e cremes para cabelo e rosto. Além do Brasil, apenas a Inglaterra vende artigos da marca americana. Uma notícia que pode levar a atriz Stella Souza Lima a aumentar seus gastos com produtos de beleza. Por mês, ela gasta, em média, R$200 com cosméticos e itens de cuidados pessoais.

¿ Estou sempre atrás de novidades nessa área, sejam importados ou nacionais. Compro todo mês alguma coisinha. E, não tem jeito, em lojas ou em supermercados, é na seção de beleza que perco mais tempo.

Consumidores como Stella levaram as Sendas a passarem para a frente de suas lojas o setor de perfumaria. E ainda a promover campanhas que trazem descontos de até 20% em alguns produtos e serviços como aplicação de tintura para as clientes. A empresa não se arrepende das mudanças:

¿ Se em janeiro nossa participação no mercado respondia por 12,8% das vendas no Rio, em agosto elas passaram para 17,8%. E, de janeiro a setembro de 2005, as vendas cresceram 14,5%, quando comparadas com mesmo período do ano passado ¿ disse Sandro Benelli, diretor das Sendas.

O Wal-Mart também não ignora o potencial do setor. Tanto que fechou parceria com a Coty e lançou com exclusividade ¿ e um mês na frente da concorrência ¿ os novos desodorantes femininos da Adidas.

¿ As vendas desse produto crescem, em média, 20% ao mês no Wal-Mart. Por isso, a Coty pretende aumentar mais sua presença nos supermercados ¿ disse Bernardo Medeiros, gerente de marketing da Coty, lembrando que os investimentos não param por aí. ¿ No ano que vem, teremos uma linha de produção no país para os desodorantes roll-on, que crescem num ritmo de 33% ao ano.

Cadeia produtiva se beneficia com crescimento

Os bons ares do setor beneficiam toda a cadeia produtiva. É o que mostra a Lubrizol Corporation, que atua na área de aditivos para lubrificantes e combustíveis. Sua subsidiária, a Noveon, deve crescer 19% em 2006 oferecendo matéria-prima para a indústria de cosméticos. Por enquanto, o crescimento se dá com o aumento na importação de matéria-prima das fábricas da Noveon nos EUA e na Europa. Mas em 2006 deve ser montado um laboratório para desenvolver produtos.

¿ O Brasil é um dos maiores mercados do mundo. A empresa deixa de lado esse potencial ¿ disse Harald Jezek, diretor da Noveon.