Título: NO XADREZ DAS TELES, NOVA ONDA DE AQUISIÇÕES
Autor: Andre Marques
Fonte: O Globo, 02/10/2005, Economia, p. 37

Resolvido imbróglio na Brasil Telecom, outras empresas preparam movimentos para se fortalecerem no mercado

Tal qual uma disputadíssima partida de xadrez, os últimos movimentos no tabuleiro do setor de telecomunicações deram novos rumos ao jogo. Depois de sete anos de disputa, as duas torres, Citigroup e fundos de pensão, encurralaram o bispo, Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity, que tombou na última sexta-feira, ao ser destituído do comando da rainha Brasil Telecom (BrT). Agora, as torres voltam suas atenções para outro bispo do jogo: a Telecom Italia, potencial compradora da BrT.

As negociações em torno da conquista da rainha do Centro-Oeste foram iniciadas há algumas semanas. Mas o sonhado acordo, que pode dar o controle total da operadora aos italianos, ainda não saiu.

Segundo um especialista do setor, duas peças ainda precisam ser movidas para que a Telecom Italia consiga comprar a participação na BrT do Citigroup e dos fundos de pensão ¿ Previ (do Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica), entre eles. A primeira é a decisão dos fundos de se retirarem do negócio. A segunda, o interesse de uma outra rainha do setor, a Telemar, na BrT.

¿ Apesar de o movimento natural ser a venda para a Telecom Italia, a Telemar ainda sonha. No caso dos fundos, eles querem sair do negócio, mas os italianos os querem como sócio-investidor ¿ diz uma fonte do setor.

Vodafone, Telmex e Portugal Telecom cobiçam Telemar

Os fundos só teriam interesse em se manter na BrT numa associação com a Telemar. Mas isso passaria por uma decisão de governo de manter um grupo nacional forte, avalia a fonte.

No mercado, há consenso de que a rainha Telemar ainda não se decidiu entre os papéis de compradora ou vendedora, mas é certo que fará seu movimento em breve. No entanto, mesmo que ¿coma algumas peças na caminho¿, quem acompanha a história da empresa é unânime em afirmar que ela acabará tombando diante de um rei, inglês (Vodafone) ou mexicano (Telmex).

Correndo por fora, também à espreita de uma chance para pôr a mão em coroa tão cobiçada, aparece uma dupla de cavalos: Portugal Telecom e Telefônica. Sócios na Vivo (cada um tem 50% da operação), os ibéricos já desenharam nos bastidores um xeque na regulamentação: a Telefônica compraria a parte da Portugal Telecom na Vivo e os portugueses ficariam com a Telemar.

¿ Eles driblariam a regulamentação e operariam em conjunto. Há outros cenários, como a venda da Telemar para a Telmex ou Vodafone, e até mesmo a manutenção da empresa com os brasileiros, se o governo quiser um grupo nacional enfrentando os estrangeiros ¿ diz um executivo.

Em meio à estratégia das principais peças, alguns peões devem sucumbir mais rápido. Com menor estatura, mas com importância estratégica, Telemig e Amazônia Celular, CTBC (Triângulo Mineiro e São Paulo), GVT (Norte, Centro-Oeste e Grande São Paulo), Sercomtel (Paraná) e Intelig (empresa-espelho da Embratel) deverão montar fileiras com outros jogadores.

¿ A Telemar vem estudando a CTBC e pode também comprar a carteira de clientes da Telemig Celular. Com isso, blindaria mais sua área de atuação. Além dessa movimentação, há conversas entre a Vodafone e a GVT ¿ revela outro executivo de uma grande operadora.